“Nossa classe vai para o rio, mas, na verdade, vive do seguro-desemprego”, diz Domingos Márcio Martins, presidente da Z-60 há seis anos.
Quem deveria tirar o sustento do rio relaciona os problemas que precisam ser superados. Domingos diz que as barragens foram feitas sem cuidado, sem levar em consideração a natureza e seu sistema de funcionamento aumenta o assoreamento.
“O assoreamento cobre as pedras onde os peixes se protegem e o alimento que eles tiram da areia e do cascalho do fundo do rio”, explica Pedro.
Outros problemas são provocados pela falta de educação ambiental dos agricultores, que lançam agrotóxico no rio, e dos próprios pescadores.
“A nossa luta não está mais ligada ao repovoamento, mas, sim, à revitalização do rio”, revela Domingos, que também é representante da categoria no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Domingos se queixa, também, das transposições oficiais (“as duas grandes do governo”) e as “clandestinas”. Segundo ele, não há ordenamento para o desvio das águas.
“Qualquer político leva água para a própria terra. A lógica da transposição se perdeu. O processo está fazendo com que as terras fiquem salinizadas”, denuncia.
“O Comitê da Bacia do Rio São Francisco só libera recursos para grandes projetos empresariais. Para o saneamento básico, não tem dinheiro”, queixa-se Domingos.
A falta de engajamento na luta pela preservação do rio também é problema. Apesar de existir o Dia Nacional de Mobilização em Defesa do São Francisco (3 de junho), a divulgação e as manifestações são precárias.
As reclamações contra o governo federal também têm a ver com a mudança na lei de direitos trabalhistas. Antes, uma mulher que tecesse redes poderia se aposentar como pescadora. Hoje, segundo Domingos, é preciso que ela entre no rio para ter este direito.
Todo este quadro entristece Pedro Teixeira:
“Não sei se o rio ainda tem salvação”.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.