Paulo Oliveira e Thomas Bauer (CPT-BA/H3000)
O padre Luís Tonetto, 83 anos, morreu na madrugada desta terça-feira, no Hospital Memorial, em Petrolina (Pernambuco). Nos últimos anos, com problemas renais, a saúde dele estava muito fragilizada.
O sacerdote foi ordenado na Itália, em 4 de julho de 1965. Ele chegou em Senhor do Bonfim no ano seguinte, mais precisamente em 7 de setembro de 1966. Ele tinha 26 anos. Desde o início lutou em favor da população carente, reivindicando direitos e participando de missões evangelizadoras.
Padre Luís, como era carinhosamente conhecido, também atuou nas paróquias de Jaguarari, Andorinha, Caém e Nordestina. Líder nato, foi um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra e um dos principais idealizadores da “Missão da Terra” e da formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na região. O sacerdote contribuiu para uma Igreja atuante e transformadora de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela exploração social. Na década de 1970, participou da organização popular e deu suporte ao povo abandonado e explorado.
O lema de sua ação pastoral era a seguinte passagem do livro do Êxodo: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo (…). Ouvi o seu grito por causa de seus opressores; pois eu conheço as suas angústias.”
A Paróquia do Senhor do Bonfim, em nota assinada pelo administrador paroquial padre Airton Siqueira, confirmou a morte de Padre Luís, às 3h40 da manhã. O bispo da Diocese de Senhor do Bonfim Hernado Pinto Farias anunciou que a missa de exéquias (honras fúnebres) do padre Luís Tonetto será realizada na Catedral Diocesana de Bonfim, nesta quarta-feira, ás 10h30 min. O velório com Ofício Divino, será realizado na tarde de hoje, também na Catedral.
Nas próximas horas, a parceria Meus Sertões/CPT-BA publicará a entrevista concedida por padre Luís, em 19 de setembro de 2022, na Casa do Bispado, em Senhor do Bonfim.
40 ANOS DA CPT
Em 2016, quando a CPT comemorou 40 anos, o padre Tonetto, deu o seguinte depoimento:
“Eu sou filho de camponeses. Nasci no campo. Me tornei padre na época de João XXII. Em 1966 cheguei aqui. A história na CPT é misturada com a minha história de padre. No contato com o povo, fui pegando gosto com esse trabalho com as comunidades. A CHESF [Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco] abriu uma pista para colocar uma rede elétrica. Eu era padre em Jaguarari e vi um monte de gente perder as terras. E começamos reivindicando pelo menos uma indenização. Dom Jairo lutou para criar sindicatos em várias cidades. Dom Jairo teve logo a ideia de implantar a CPT aqui em Bonfim. Hélio foi o primeiro a pagar com a vida em 1978. O fazendeiro convidou Hélio para ir no carro dele e eu o acompanhei. O fazendeiro disse: ‘Você sabe que eu posso te matar’. Quinze dias depois Hélio apareceu morto. Nós, padres, assumimos a causa e os bispos também. Se os pobres daqui são os trabalhadores, então vamos trabalhar com eles”.
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Legenda da foto principal: Padre Luís na última entrevista concedida, no Bispado de Senhor do Bonfim. Foto: Thomas Bauer (CPT-BA/H3000)
Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.
