Não é qualquer um que pode usar o apelido de Capote no sobrenome. Em algumas cidades do sertão, a palavra significa bicho danado, valentão. Seu Manoel, 86 anos, morador do povoado de Utinga, em Xique-Xique, ganhou o direito de usar o Capote por causa do avô, homem valente que, segundo ele, tentava resolver problemas na conversa, mas quando não conseguia, tomava outra providência:
“Ele metia a mão na pistola velha de dois tiros e atirava no pé de quem tava fazendo a trovia. Atirava no pé para (a vítima) não perder a perna.” – conta.
Mas não foram só histórias de homens valentes que marcaram a vida do caçador e pescador Manoel Capote. Ele também bateu de frente com o espírito que assombra o Rio São Francisco e que ele chama de “compadre d’água”, como forma de respeito.
Pois não é que certo dia, o também chamado “bicho d’água” pegou o barco de Manuel e puxava para o fundo. Foi aí que o pescador diz ter conversado com ele, educadamente, pedindo para não fizesse nenhum mal. Entretido na conversa, o negro sem cabelo e com cabeça em forma de cuia, como o espírito é definido por Manoel se aproximou da margem.
“Quando chegou perto do seco, saí correndo” -, admite
Depois, passou um tempo temeroso de voltar ao rio. Para Manoel, o espírito “é como a gente”, um caboclo bem moreno, que só perturba quem o maltrata.
Além de histórias de valentia e assombração, a médica e pesquisadora Helenita Monte de Hollanda mostra em vídeo algumas canções antigas que fazem até hoje a alegria de seu Manoel.
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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.