Quando não está trabalhando no almoxarifado da prefeitura de Santa Brígida, Erivaldo Pereira de Araújo, 43 anos, vive cercado de santos e anjos. Ele é o principal santeiro da cidade, em cujas casas, principalmente a dos mais antigos, estão abarrotadas de imagens do beato Pedro Batista, da madrinha Dodô, de Frei Damião e de Padre Cícero.
Se no passado as encomendas eram muitas, hoje, apesar do misticismo ainda reinante na cidade, elas estão reduzidas aos pedidos feitos por lojistas e ao estoque da loja que funciona no Memorial Pedro Batista, na rua Castro Alves, onde são colocadas em consignação. Também há freguesia para compra de anjos que enfeitarão casamentos e outras festas.
“Mas não dá para viver só disso”, diz Erivaldo.
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O almoxarife começou a fazer restaurações de imagens de gesso aos 15 anos. Aos 27, foi trabalhar por dois meses na Casa Santa Helena, em Juazeiro do Norte (CE), considerada a melhor loja do ramo no Nordeste, para aprender a técnica de fazer estátuas de cimento e pó de pedra que resistem ao tempo.
Graças ao que aprendeu, ajudou a fazer a estátua de Pedro Batista, instalada na praça com o mesmo nome do beato. A imagem, encomendada pela prefeitura há mais de uma década, tem cinco metros de altura e foi produzida por Cícero Pompeu, um artista cearense, que trouxe consigo a mulher e um ajudante. O trabalho levou sete meses. E coube a Erivaldo lixar e ajudar no enchimento da imagem, “usando muito ferro”.
Depois da imagem do “Padrinho”, a maior obra do santeiro de Santa Brígida foi uma escultura da “Madrinha Dodô”, com 1,60 m, que está exposta na fazenda Morada Velha. O trabalho durou quatro meses. Dodô foi a principal assistente e sucessora de Pedro Batista.
DEVOTO DE SÃO JORGE
Nem só de grandes trabalhos, vive o santeiro, que tem uma oficina improvisada em casa. Um de seus principais clientes é o padre Pedro Alexandre. Ele o contrata para serviços de restauração. O último foi a recuperação de um crucifixo de resina.
As imagens mais procuradas, depois da dos beatos, são a de Frei Damião e Padre Cícero, vendidas no atacado por R$ 20, preço que dobra nos revendedores. Também os anjos estão entre os preferidos para enfeitar casamentos e outras cerimônias. Eles são mais trabalhosos e um pouco mais caros. Unidade dos querubins maiores custa R$ 35 para lojistas.
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Pernambucano de Garanhuns, Erivaldo também faz imagens de Santa Brígida, Nossa Senhora das Graças e Santa Bárbara, mas gosta mesmo é de São Jorge, segundo ele, mais difícil de ser feita, devido ao excesso de detalhes. O trabalho é tanto que o santeiro optou por ter um quadro do santo de sua devoção na sala de casa em vez de uma peça em gesso ou cimento.
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Para se ter uma ideia do custo da imagem do Santo Guerreiro, o artista cita que o São Jorge dourado instalado na praça da igreja dedicada a ele foi feita, recentemente, na famosa loja Santa Helena e custou R$ 10 mil, apesar de não ser muito grande.
Embora tenha a atividade como complemento de renda, Erivaldo está começando a ensinar o filho a trabalhar na confecção de santos. Por enquanto, o menino ajuda a pintar as peças. Para manusear o gesso vai levar mais tempo.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.