O manuê de Duru acabou

Quando fala das coisas boas de Canudos, o padre José Alberto inclui o manuê (bolo de milho) que dona Júlia Maria dos Santos, a  Duru (apelido de infância), 81 anos, fazia para vender na feira.

Duru também é famosa por ser descendente de conselheiristas (pessoas que viveram no Arraial de Belo Monte, fundado por Antônio Conselheiro). Mas disso falaremos depois.

A doceira aposentada conta que aprendeu a preparar o bolo com a avô, depois com a  mãe, “que ficou fazendo até não poder fazer mais”.

O processo de debulhar o milho, deixar ele de molho na água, moer, peneirar, misturar os demais ingredientes, assar lentamente em fogão de lenha e cuidar para ele não queimar, leva até quatro horas no caso de um manuê pequeno, “com dois quilos de milho”.

“Quando era nova eu fazia com seis quilos de milho, que levava mais tempo” – conta

Hoje, Dona Duru está acamada com os joelhos inchados, após uma queda e aguarda uma consulta há mais de 15 dias com um médico, em Euclides da Cunha, a 70 km de distância.

O ÚLTIMO MANUÊ

A neta e filha de conselheiristas lembra ter feito o bolo pela última vez em setembro de 2015. E revela o motivo pelo qual decidiu parar a produção do manuê, que chegou a ser vendido para Feira de Santana, Salvador e São Paulo: ele é trabalhoso e dá pouco lucro.

Mesmo, sem fazer mais o bolo, Duru não ensina a receita, que guarda de cabeça, deixando saudades no paladar de muita gente.

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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