O cenário é árido, mas o bom humor de seu Rodrigo alegra o ambiente na comunidade Onça, distrito de Catingal, em Manoel Vitorino (BA). Aos 65 anos, dono de prosa cativante e um sorriso largo, ele lembra do tempo em que caminhava léguas em busca de um forró.
O anúncio da festa, naquela época, era no “boca a boca”. Casamento, batizado, qualquer coisa era prenúncio de raiar o dia dançando e “comendo água”.
Seu Rodrigo não esconde a fama de namorador. Está no quinto casamento. O primeiro durou 27 anos, mas teve um que durou cinco dias. A atual esposa, dona Eutália de Sena, 60 anos, foi “encomendada” em um dia desses de forró.
“Encomendar” mulher ainda é algo que ainda acontece no sertão. E serve para unir um homem de idade e uma mulher só. Quem faz este papel é o “encomendador”, que percorre povoados e localidades distantes para identificar mulheres a procura de marido. Seu serviço é remunerado.
SECA E LABUTA
Lavrador aposentado Rodrigo também fala das mudanças que o sertão sofreu nos últimos anos:
“O rio Onça, que hoje é seco, vivia cheio e afogava qualquer um” – lembra.
Hoje, as cisternas e os carros-pipas do Exército ajudam o sertanejo a conviver com a estiagem.
Apesar dos problemas, seu Rodrigo diz que não há lugar melhor no mundo que o sertão. Acompanhe a entrevista feita por Joabes R. Casaldáliga.
- Author Details
Nascido em Teixeira de Freitas (BA), Joabes R Casaldáliga, aos 10 anos, participava das reuniões das Comunidades Eclesiais de Base. Era levado pela mãe, adepta de religião de matriz africana, que ia aos encontros para discutir os problemas da comunidade em que moravam, em Itamaraju. Cresceu entre o sincretismo, cantos, rezas, benditos, incelenças e a luta pela reforma agrária. Sua vida foi marcada por um encontro com José Comblin, padre que lançou as bases da Teoria da Enxada. É fotógrafo, comunicador popular e integrante da Pastoral da Juventude Rural.