SOTAQUE DE UM POVO NAS BARRANCAS DO VELHO
O Velho Chico, rio que corre em minhas veias, além dos seus mistérios, segredos e encantos, tem seus navegantes contadores de causos, que em certos momentos chegam a ser surreais, como conta Mané Pescador:
“Corre um boato aqui donde eu moro que Madalena Pomba Roxa, teve um filho nas coxa. E que lá pras banda do Catu, Salete, rapariga do cabo Chiquim, teve um fi bem pertim”.
“Pertim de que, compadre Mané?”
“Das coxas, compadre Zé. E devia de ser mais adonde?”
“Quando o senhor disse que foi no Catu, pensei que ia da rima, compadre.”
“Diz que o homem que faz fi nas coxas é porque num levanta mais a cigana.”
“Aonde, moço! Quem num levanta mais o cegonho, num fais fi nem no joelho, quanto mais nas coxa.”
“Pior foi lá na Pinguela de Baixo que nasceu um menino sem osso.”
“Então foi feito de língua!”
“E é só língua que não tem osso é? Deixe de ser mobral!”
Coisas de Xique-Xique na Bahia.
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Arilson Borges da Costa ,nasceu em 22 de fevereiro de 1970, em Xique-Xique – BA. Filho de sorveteiro e neto de pescador, é professor. Estudou contabilidade na escola pública de Xique-Xique, Bahia, porém em 2008 abandonou a área de exatas e passou a estudar letras vernáculas, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ao longo de sua vida acompanhou pescadores às margens do rio São Francisco, no intuito de entender o sotaque do povo ribeirinho, por isso migrou seu trabalho para escrita de contos e causos do povo.