Seu Sebastião, agricultor da Fazenda Salvador, no distrito de Custódio, em Quixadá (CE), há três anos convive com a fama de ser o proprietário do maior mandacaru do Nordeste. Em reportagem de uma emissora de TV, ele diz ter medido a sombra do cacto, que teria atingido 10,38 metros.
O tamanho deste mandacaru, palavra que em Tupi significa feixe cheio de espinhos, chamou a atenção de um grupo de ciclistas, em 2015. Na época, a medição pela sombra, como faziam os astecas (antiga civilização mexicana), deu 9,5 metros. A poda frequente das ramificações e a adubação são apontadas como possíveis causas do crescimento da planta cearense.
Agora, no entanto, surgiu um exemplar na região centro-sul da Bahia para tentar desbancar de vez o concorrente e ainda arrebatar o título de mandacaru mais longevo do país. Segundo o criador de cabras leiteiras, Antônio Caetano, que possui uma propriedade próxima à Fazenda Mucambo, na zona rural de Malhada de Pedras (BA), o cacto existente na propriedade da falecida dona Alvina tem mais de 10 metros e aproximadamente 80 anos de idade, o mesmo que é dito por Edmílson Ferreira Malta, 40, atual morador no local que se deixou fotografar ao lado do cacto.
O mandacaru reina no meio de uma plantação de palma. Ele equivale a altura de quatro homens de estatura mediana, com o braço estendido para cima.
EMBRAPA
Circular técnica da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), distribuída em 2012, o mandacaru chega a atingir 10 metros de altura. Seu caule poligonal tem longos espinhos e as flores são grandes, brancas e só abrem durante a noite, quando são polinizadas por mariposas. Os frutos têm forma de baga espinhosa, de cor vermelha intensa com sementes pretas e miúdas.
A floração ocorre nos meses de outubro e dezembro. Entre os meses de dezembro e janeiro acontece a frutificação, e a propagação da planta pode ser realizada por sementes ou por estacas do caule, que contém fécula utilizada na preparação de pães, biscoitos, broas e mingaus, consumidos na alimentação humana.
Os ramos depois dos espinhos serem queimados servem de alimento para animais (bois, cabras e ovelhas). Em sua composição há 15,84% de água, 10,72% de proteína bruta, 1,04% de estrato etéreo, 45,52% de extrativos não nitrogenados, 16,22% de fibra bruta e 10,66% de resíduo mineral.
PROPRIEDADES FITOTERÁPICAS
Trabalho apresentado no I Congresso Internacional da Diversidade do Semiárido, em 2016, em Campina Grande, ressalta que o mandacaru é um fitoterápico rico em benefícios. Pesquisa feita pelo agrônomo Fábio Rodrigo Araújo Pereira e as estudantes em enfermagem e biomedicina, Hirisdiane e Hirisleide Bezerra Alves, mostra que o “Cereus Jamacaru” (nome científico) pode ser usado no tratamento de doenças como gastrite, cálculo renal, infecção na bexiga, febre e resfriados. Age ainda como anti-inflamatório, tem função diurética e ação expectorante. As propriedades medicinais estão principalmente na parte interna e na raiz.
Os autores ressaltam que o Brasil é considerado o terceiro maior centro de diversidade da família Cactaceae, possuindo 35 gêneros e 237 espécies em seu território. O mandacaru também é conhecido como cardeiro e sobrevive em lugares de clima seco e com pouca água porque as raízes absorvem líquido no lençol freático.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.