“Faz escuro, mas eles cantam”. Aqui não tem tempo ruim, as pessoas acordam às 4 horas da manhã. Por essas bandas, o galo determina o acordar. Uns fazem café, outros arreiam animais.
Segunda-feira também é dia de fazer farinha, que ficará pronta para ser vendida na feira-livre de Maiquinique, terra da pecuária, da indústria de calçados e polo de extração de minério a 16 quilômetros de distância.
Esses trabalhadores rurais que cantam no escuro são conhecidos pela produção de produtos orgânicos, livres de agrotóxicos.
O derivado da mandioca tem um processo que exige muita paciência, aprendizado obrigatório para quem vive na comunidade do Tinga (palavra indígena que significa branco), também conhecida como Mal Dormida, nome mais apropriado.
Fiquei dois dias na comunidade acompanhando e fotografando o ritmo, o trabalho e a cultura deste povo que há tempo luta para ser reconhecida como quilombola.
A luz aqui ainda é a do candeeiro e a da vela. Mal Dormida não tem acesso a muita coisa. Este ensaio fotográfico que apresento aos leitores de Meus Sertões é uma homenagem às crianças, às mulheres e aos homens desta comunidade.
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Nascido em Teixeira de Freitas (BA), Joabes R Casaldáliga, aos 10 anos, participava das reuniões das Comunidades Eclesiais de Base. Era levado pela mãe, adepta de religião de matriz africana, que ia aos encontros para discutir os problemas da comunidade em que moravam, em Itamaraju. Cresceu entre o sincretismo, cantos, rezas, benditos, incelenças e a luta pela reforma agrária. Sua vida foi marcada por um encontro com José Comblin, padre que lançou as bases da Teoria da Enxada. É fotógrafo, comunicador popular e integrante da Pastoral da Juventude Rural.