Santa Brígida, cidade do sertão baiano que tem o nome da padroeira da Europa, se desenvolveu a partir da chegada do líder messiânico Pedro Batista. Ele e Maria das Dores dos Santos, a Madrinha Dodô, ex-assistente de Padre Cícero, acreditavam que o sofrimento do corpo era o caminho para se chegar até Deus. Por isso, pregavam a necessidade de os cristãos fazerem penitências e sempre rezarem.
Embora o número de romeiros diminua a cada ano, seguidores dos beatos se orgulham de manter as tradições locais como a Caminhada de Branco, procissão que percorre os cemitérios da cidade, na madrugada do Sábado de Aleluia, e retorna à Igreja de São Pedro para rezarem o Ofício de Nossa Senhora.
“A tradição está caindo, mas a gente ainda segura. As portas da igreja estão abertas e a gente canta aleluia”, diz Zezito Apóstolo da Silva, 84 anos, um dos homens de confiança da Madrinha Dodô (1902-1998).
É ele que dá início ao cortejo, entregando a cruz que vai à frente da procissão a Lázaro Josias Silva Ribeiro, 15 anos, neto de romeira. O jovem guia o cortejo pelo segundo ano consecutivo. Ele sai acompanhado por 75 pessoas, mas o grupo receberá adesões no caminho até os cemitérios São Pedro, onde Dodô e Padrinho estão sepultados, e o municipal.
Os fiéis seguem na caminhada vestidos de brancos. A maioria está descalça. Mulheres e crianças vão na frente. Os homens, na parte de trás. No primeiro cemitério, alguns avisam que há espinhos entre as sepulturas que estão fora do caminho do cruzeiro. A caminhada continua sem maiores incidentes.
Depois de passarem pelo cemitério municipal, na entrada da cidade e sem iluminação, os romeiros retornam à igreja de São Pedro, onde Zezito aguarda diante da imagem do Senhor Morto, cercado por bancos da igreja. É a representação da espera pela ressureição de Jesus Cristo.
Enquanto as beatas rezam, parte dos homens entra na igreja para tirar os panos roxos que cobrem as imagens dos santos. O coroinha da Igreja Matriz, Weverton José Evaristo Bezerra, 16 anos, é um deles. Ele conta que a programação da Semana Santa é feita no templo de Santa Brígida e no de São Pedro, construído por Pedro Batista.
“Acredito em Pedro e na Madrinha, que foram pessoas inspiradas por Deus, e pregaram a fé, a caridade e o amor” – diz o jovem.
Lá fora, Zezito, um dos guardiões da tradição messiânica, carrega a imagem de Nossa Senhora e a aproxima da estátua do Senhor Morto, que é colocado de pé por fiéis. E ressalta que Cristo venceu a morte.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.