Por volta das 4h30min da manhã, os pássaros fazem cantoria nos jardins do Mosteiro de Jequitibá, no município de Mundo Novo, no sertão baiano. Os monges acordam cedo com o chilrear das aves ou o badalar dos sinos, convocando-os para as preces matinais. Hospedado na cela que tem o nome de São Pocômio, levanto assim que o dia clareia no verão caatingueiro.
Tomo banho e saio a passear pela fazenda que os cistercienses transformaram em monastério nos anos 1930. Caminho por entre as aleias no acesso ao mosteiro. A vegetação de transição está florida, embora o tempo estivesse bem seco, no final do ano passado. Caminhando, dou de frente com o cemitério, onde estão sepultados os primeiros padres austríacos que vieram para a Diocese de Jacobina e começaram a construir a atual abadia cisterciense.
De um lado do cemitério, os religiosos. Do outro, trabalhadores da fazenda que foi doada aos monges por um casal rico, que queria deixar como legado uma escola rural para os filhos dos agricultores e criadores de animais que prestavam serviço para eles.
A missa das 6 horas ainda está longe de começar. Passeio por entre os diversos prédios – a pousada, o claustro, os ateliês, o consultório de medicina complementar do irmão Antônio, com quem me identifico e converso sobre os desígnios de Deus e como resistir às tentações.
Passeio ainda por uma ala onde funcionou no passado a moradia de enfermeiras e professoras, no tempo em que havia um monge médico no mosteiro e a escola rural ficava no mesmo prédio onde os irmãos trabalhavam. Com o tempo, os religiosos passaram a reclamar do barulho feito por crianças e adolescentes e o colégio foi transferido para o povoado há quase um quilômetro de distância.
Antes de seguir para igreja para acompanhar as preces e a missa, me dou conta que os locais que estão no vídeo que estou gravando não aparecem nas matérias que foram feitas até agora. A lavanderia, a piscina desativada, o salão de reuniões e confraternizações.
Não estava previsto, mas resolvi transformar a filmagem no oitavo capítulo da série sobre o Mosteiro, inicialmente planejado para apenas três partes.
Ainda falta uma reportagem, que deveria ter sido a primeira, mas será a nona: a do processo educacional dos cistercienses e dos diferentes tipos de ensino que foram ministrados ali. É assim que terminará a mais longa série feita por Meus Sertões. Afinal de contas, havia muito mais para contar- e para mostrar – do que imaginamos. Desejo que todos tenham um bom passeio.
Caminhando ao amanhecer
leia a série completa sobre o mosteiro:
O mosteiro de Jequitibá Vida de monge Os dois museus do monastério O monge holístico A pousada e o claustro Arte medievalA igreja da Divina Pastora
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.
Respostas de 2
Lindo registro, Paulo. Parabéns!
Muito obrigado, Helenita!