O Comitê Científico de Combate ao Coronavírus (C4NE) divulgou o oitavo boletim para assessoramento dos governadores e gestores municipais dos nove estados do Nordestes. Os cientistas e médicos do comitê são enfáticos ao afirmar que as medidas de isolamento social não devem ser relaxadas. Eles afirmam, com base em projeções matemáticas, que o relaxamento poderá acarretar um aumento de 200 mil novos casos e 7.500 óbitos na região, causados pela Covid-19, em junho.
Os pesquisadores assinalam a urgência de se decretar lockdown (confinamento rigoroso da população) em Aracaju, capital de Sergipe, e no município de Imperatriz, no Maranhão, onde o sistema de saúde está à beira do colapso. Reafirmam também a recomendação feita no boletim anterior que o mesmo ocorra em Natal e Mossoró (Rio Grande do Norte), Campina Grande (Paraíba), Arapiraca e São Miguel dos Campos (Alagoas).
No relatório do C4NE informa que as medidas de isolamento em vigor nos estados e municípios nordestinos foram responsáveis por uma “leve diminuição no ritmo de crescimento de casos confirmados e óbitos” nas cidades que implantaram o confinamento mais rigoroso. E cita como exemplo Fortaleza (Ceará), São Luís (Maranhão) e Grande Recife (Pernambuco).
Apesar de reconhecer as graves dificuldades econômicas, o comitê ressalta que nenhum estado nordestino atingiu o pico da doença, portanto deve manter as medidas de isolamento. Para auxiliar da decisão dos gestores, o C4NE criou uma matriz de risco da pandemia, a partir da análise de propostas semelhantes adotadas no exterior e já implantada na Paraíba. Nela, são estabelecidos 13 parâmetros, além da taxa de crescimento da infecção, para mensurar o risco de cada estado (clique aqui para consultar a tabela).
Levando em conta a proposta se percebe que os estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco sofrem a maior tensão e alto risco de colapso no sistema de saúde. Com relação ao quadro epidêmico, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe são os que mais preocupam. Na classificação sobre isolamento social, todo o Nordeste apresenta índices baixos e preocupantes nos municípios.
O C4NE, coordenado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e pelo ex-ministro da Saúde Sérgio Rezende, faz ainda uma avaliação e recomendações para cada estado, ressaltando que a pandemia não parou de crescer em nenhum deles. Eis o resumo do que foi apresentado:
Alagoas – Maceió apresentou um aumento de 109% dos casos de Covid-19. Felizmente, a abertura de novos leitos de UTI manteve a taxa de ocupação no limiar de 80%. A recomendação é que o isolamento social seja mantido. Outra constatação é que a doença avança no interior e as cidades de Coruripe, Maragogi, São José da Lage e Palmeiras dos Índios são as mais atingidas. Recomenda-se mais uma vez a implantação de lockdown em Arapiraca e São Miguel dos Campos.
Bahia – Salvador registra aumento de 117% dos casos do novo coronavírus em duas semanas. A implantação de novos leitos também mantém a capital no liminar de 80%. A situação de cidades como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna e Juazeiro preocupam.
Ceará – Após três semanas de implantação de medidas mais rígidas de confinamento da população, em Fortaleza, houve redução de casos e estabilização do número de óbitos. Também foi registrada queda sensível de atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e redução do fator de reprodução da doença. O sucesso do lockdown passou a ser referência para todo o Nordeste. No entanto, no interior os números crescem e a capital continua recebendo um grande número de pacientes, o que motiva a manutenção do isolamento. Para confirmação da melhora e decisão de flexibilização do isolamento serão necessários o acompanhamento dos índices por mais uma semana ou duas.
Maranhão – Apresenta melhora de resultados em São Luís, onde também foi implantado confinamento mais radical. Mesmo assim, a ocupação de leitos está em torno de 90% diante da maciça transferência de pacientes de outras cidades – há crescimento exponencial nos municípios de Buriticupu, Barra do Corda, Açailândia, Santa Inês, Imperatriz e Chapadinha. O comitê vê com preocupação a tentativa de relaxamento de isolamento social e a possibilidade de as aulas recomeçarem na segunda quinzena de junho.
Paraíba – O C4NE apoia a decisão do governo estadual e de prefeitos de cidades da região metropolitana de João Pessoa de implantarem rígido isolamento social por 15 dias. Ressalta que Campina Grande deve seguir o exemplo, já que ainda não atendeu a proposta feita pelo comitê no boletim 7, apresentado no dia 21 de maior. Os cientistas sugerem ainda que as cidades de Patos, Souza e todos os municípios do litoral devam ser monitorados com mais atenção, devido à elevação do número de casos.
Pernambuco – A região metropolitana de Recife demonstra alguns bons resultados devido ao lockdown parcial. No entanto, a taxa de ocupação de leitos e o número de casos continuam elevados. A maior preocupação é com o avanço acelerado da doença no interior. Garanhuns, Caruaru, Águas Belas, Serra Talhada e Petrolina são as cidades mais atingidas.
Piauí – É o estado que apresenta os melhores indicadores da pandemia no Nordeste. Há, porém, uma tendência de crescimento de casos em Teresina, Picos, Parnaíba e Campo Maior. O estado implantou o programa de Brigadas Emergenciais de Saúde, do qual fazem parte médicos e profissionais com diplomas obtidos em outros países, conforme sugestão do C4NE. A recomendação agora é que as brigadas sejam espalhadas por todo o território.
Rio Grande do Norte – Grave situação de falta de leitos na região metropolitana de Natal, que deve ser monitorada com mais ênfase. A recomendação é que haja implantação de medidas de confinamento rígidas na capital e em Mossoró.
Sergipe – Escalada de casos e óbitos em Aracaju, que cruzou o patamar mínimo de ocupação de leitos, é muito preocupante. A implantação de lockdown deve ser implantada com urgência, segundo os cientistas. O alastramento pelo interior também é crescente. As cidades de Itabaiana, São Cristóvão, Lagarto, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora do Socorro são as mais atingidas.
- Author Details
Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.
Respostas de 2
A impressão que tenho é que as pessoas acham que tudo não passa de brincadeira. Não há ninguém no comando. Trata-se de um pandemia seríssima.
Margareth, em alguns lugares há comando e responsabilidade. No entanto, isso não acontece em muitas cidades. Já no âmbito federal, definitivamente não há comando. Não temos ministro da Saúde, nem alguém qualificado para orientar a população.