Historiadores do Rio Grande do Norte defendem que os colonizadores portugueses desembarcaram pela primeira vez em Touros (RN) e não no sul da Bahia
Um marco de pedra instalado na cidade de Touros, no Rio Grande do Norte, deu origem a uma polêmica que se arrasta há anos: a de que os portugueses aportaram no Brasil pela primeira vez ali e não no sul da Bahia. O monumento original está guardado no Museu Câmara Cascudo, em Natal, capital do estado, a 90 quilômetros de distância. Na praia do Marco, o que existe é uma réplica.
Para chegar à cópia “feia e mal feita” do marco, segundo relato da pesquisadora Tânia Maria Teixeira ao jornal Folha de S.Paulo, é preciso percorrer 17 quilômetros de uma estrada ruim a partir da praia de Tourinhos. Também é necessário encarar a melancólica paisagem de um parque eólico, de acordo com a médica e pesquisadora de cultura popular Helenita Monte de Hollanda, colaboradora de Meus Sertões.
“Não há momento mais gratificante para o pesquisador da cultura popular que ouvir as histórias, os saberes, os conhecimentos das pessoas que se encontra pelo caminho. No extremo nordeste da América do Sul, há uma região rica em histórias. O marco zero, decorado por um monumento do arquiteto Oscar Niemeyer, sinaliza o início da Rodovia BR-101, que corta 12 estados brasileiros, está localizado no município de Touros, no Rio Grande do Norte” – destaca Helenita, que em parceria com o jornalista Biaggio Talento produziu o mini documentário “Histórias e belezas de Touros”.
No vídeo, ela e o companheiro entrevistam o empresário e o proprietário de um pequeno museu de objetos antigos e discos de vinil, Edson Nobre, que dá detalhes da disputa potiguar para obter o privilégio de ser o berço de Pindorama, nome dado pelos povos originários em contraposição ao Brasil denominado pelos portugueses.
Os defensores de que os navios dos colonizadores aportaram em Porto Seguro dizem que o marco potiguar foi instalado só depois do “descobrimento”, em 1501. Já, os que apostam em Touros como berço esplêndido de nossa pátria afirmam que as correntes marítimas que trazem as caravelas para a América do Sul desembocam no Rio Grande do Norte.
O historiador potiguar Ítalo Araújo defende que é mais lógico a chegada em seu estado natal por causa das correntes marítimas. Ele também argumentou, em entrevista ao jornal Estado de Minas, que o morro descrito por Pero Vaz de Caminha seria o Pico do Cabugi, e não o Monte Pascoal.
Para saber mais detalhes da polêmica, veja o vídeo abaixo.
Toureando com a história
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Legenda da foto principal: Marco zero original ficou no Forte dos Reis Magos, em Natal, entre 1979 e 2021. Depois foi transferido para o museu Câmara Cascudo. Reprodução da internet
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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.