Prima Tereza, a companhia perfeita

Paulo Oliveira –

Cantor maranhense levava a prima para pescar e dançar. Passeios incluíam até cabarés

Tereza Vale Parga tem 96 anos, é extremamente lúcida e não dispensa uma cerveja. A que nos serve acabou de chegar, mas não está muito gelada. Ela fala sobre o calor de Pedreiras, que amanhece com 37 graus centígrados nessa época do ano.

A professora de alfabetização aposentada é tímida diante de estranhos, mas a presença de João Aurélio, filho do cantor, a deixa mais à vontade. No início da conversa, Tereza conta que é quatro anos mais velha que o primo. Ela de 1929, ele, de 1933.

Tereza recordou que tanto a mãe de João quanto a dela, Petronilha, mais conhecida como dona Pituca, faziam bolos de tapioca, para serem vendidos em pedaços, em um tabuleirinho. O trabalho de João não permitia que os dois brincassem muito, mas quando havia tempo, jogavam baralho.

Pituca era irmã do pai de João, Cirilo, mas passou pouco tempo na região do Lago da Onça. Com um ano, foi morar em Pedreiras.

A prima do ex-garimpeiro sabe de cor várias músicas deles, que deixou Pedreiras com 14 anos. Menos inibida, solta a voz para cantar “De Teresina a São Luiz”, composta em dupla Luiz Gonzaga. Na época da gravação, os dois não podiam assinar a autoria por pertencerem a editoras diferentes. A solução foi colocar Helena Gonzaga, mulher do Rei do Baião, como parceira.

Dona Terezinha contou ainda que quando o governo do estado construiu o Parque João do Vale na cidade, ela cedeu discos e objetos do primo para o acervo do museu, que ocupa uma das unidades do centro de lazer, cultura e formação:

“O Parque é muito bonito. Achei a homenagem válida” – disse

Instigada por João Aurélio, a professora aposentada revelou que João a visitava com frequência e a levava para pescar, almoçar e dançar. Ela não sentia constrangimento em acompanhá-lo até nos cabarés, na rua da Golada.

“Nunca fui desrespeitada por ninguém. O João era muito querido. Um dia, fomos ao Diogo (nome de um brega). Quando um vizinho me viu entrar, passou por baixo de uma cadeira e saiu correndo. Ele era casado e ficou vergonha e medo de eu contar o que vi para a mulher dele”.

Além dos cabarés, os primos também iam dançar no Clube dos 10 e na União Artística Operária Pedreirense, hoje extinta.

Tereza considera que a cidade ficou famosa por causa do cantor. Segundo ela, o povo até hoje retribui o legado de João do Vale e sente orgulho de ser conterrâneo dele.

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Legenda da foto principal: Tereza, prima e amiga de João. Foto: Paulo Oliveira/Meus Sertões

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Leia a série completa

Teste seu conhecimento sobre João do Vale A cidade de Pedreiras e as pedradas de João

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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