“Perdeu, perdeuuuuuuuu.
Vai pra casa,
vai pra casa,
vai pra casa,
que é o teu lugar
Acabou, acabou.
O barco afundou.
A ditadura acabou”.
No sertão, não basta ganhar a eleição. Tem que tripudiar do adversário. Foi assim em Antas, Cícero Dantas e Jeremoabo no dia seguinte a escolha dos prefeitos.
O ritual começou de manhã com eleitores, correligionários, futuros servidores e cabos eleitorais desfilando com bandeiras, bebendo nos bares, dirigindo carros, com altos-falantes ligados no último volume.
“Tá caindo a marreta do 55.
Tá caindo a marreta do 55.
55 tem a marreta biônica.
Tem muita gente chorando
Já tá com a cabeça tonta”
O som faz tremer as ruas de Jeremoabo quando passa, às 20 horas, a carreata da prefeita reeleita Anabel de Tista, da coligação que mistura PSD, PT, PMDB e outros seis partidos. Ela teve a candidatura impugnada e recorreu. Nas urnas, levou a melhor por 1.006 votos sobre Deri de Palmas, da coligação PP, PPS, DEM, PCDOB, SD e PTN.
No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a vitória de Anabel ainda não tinha sido confirmada até segunda-feira à noite. Seus eleitores comemoram mesmo assim – um deles dando golpes no ar, na garupa de uma moto, com uma marreta de plástico gigante.
CÍCERO DANTAS
Mais cedo, um bêbado regeu o hit “Pula, pula pro lado de cá”, nos fundos de um trio elétrico. A música foi feita para um partido, mas utilizada por vários outros pelo interior afora. À frente, numa picape novinha, Dr. Ricardo, do PP, acenava para os eleitores.
No ônibus que seguia para Antas, o agricultor Antônio Ferreira comparava eleição no sertão com decisão de campeonato. E confessava que estava indo visitar o irmão porque seu candidato perdeu em Tucano (BA). “Vou esfriar a cabeça. Já disse para a mulher que vou me mudar da cidade. Apóio o político que perdeu as últimas quatro eleições”, contou.
Em Antas, um trio elétrico bloqueou a rua principal. Era a turma de Sidônio Nilo (PSL) em festa. Irmão do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Sidônio derrotou Roberta de Agnaldo (PP).
Agnaldo era ex-prefeito da cidade e tentaria a reeleição, mas morreu após sofrer um infarto, perder a direção do carro, capotar e bater em uma árvore. A filha foi escolhida pela família para substituí-lo na disputa.
NOITE AGITADA
Em Jeremoabo, a festa não parou. Motos cruzaram a rua principal, acelerando os motores. A todo momento alguém soltava fogos. Veículos buzinavam. E a musiquinha tocava, sem dar trégua:
A motocicleta que deu cria“Perdeeeuuuuuuuu…”.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.