Mudanças climáticas, redução das chuvas, danos ambientais fazem aridez avançar no Maranhão e em outros 10 estados
Dois dos 217 municípios do Maranhão – Timon e Araioses – passaram a ser classificados, em dezembro de 2017, como cidades do semiárido por terem pelo menos uma das seguintes características estipulada por critérios técnicos e científicos:
1) Precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800mm (oitocentos milímetros);
2) Índice de Aridez de Thorntwaite [1] igual ou inferior a 0,50 (cinco décimos)
3) Percentual diário de déficit hídrico igual ou superior a 60% (sessenta inteiros por cento) considerando todos os dias do ano.
Até então, o estado não fazia parte do semiárido, que estava restrito a oito unidades federativas do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe) e uma, do Sudeste (Minas Gerais).
Em dezembro de 2021, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste voltou a analisar as características das duas regiões e decidiu ampliar a classificação para mais 14 municípios maranhenses [2] e seis capixabas [3]. Na ocasião, incluíram outras 183 cidades do Nordeste e de Minas Gerais.
Outra decisão tomada foi avaliar a retirada de 50 prefeituras da lista dos governos municipais com direito a benefícios como a participação em parcela do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) para atividades produtivas; verbas do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) usado para financiar infraestrutura e serviços públicos; auxílio para ações emergenciais de convívio com a seca e aplicações na área de educação.
Em 2024, no entanto, decidiu-se prorrogar por mais um ano a manutenção das cidades que seriam excluídas para que uma nova avaliação seja feita. Com isso, o semiárido passou a ter 1.477 municípios, ou seja, 26,5% do total de prefeituras do Brasil.
As mudanças climáticas, que incluem a redução da quantidade de chuvas, as secas relâmpagos e o avanço da desertificação. Estudo publicado pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), divulgado em março passado, revelou que 55% das áreas subúmidas secas (agreste) se tornaram semiáridas e passaram a enfrentar secas com estiagens de cinco a seis meses com frequência.
Em 2023, por exemplo, a Baixada Maranhense, composta por 20 cidades, sofreu a maior seca dos últimos 10 anos. A estiagem durou seis meses e secou lagos e lagoas. Cerca de cinco toneladas de peixes morreram no Lago de Itans, em Matinha, a 222 quilômetros de São Luís, a capital do estado. Vale ressaltar que uma área pode se tornar desértica por razões climáticas e por interferência humana, com técnicas agrícolas inadequadas e exploração excessiva dos recursos naturais.
Relatório do Monitor das Secas, emitido no início deste ano, revela que, devido à anomalia negativa de precipitação, houve o agravamento da seca no nordeste e extremo oeste do Maranhão. A estiagem de moderada para grave. Além disso, houve o avanço da área com seca fraca (S0) no norte do estado. O monitor é formado por agências regulatórias, empresas de saneamento, secretarias de agricultura e de meio ambiente, universidades e pela defesa civil de todo o país.
AS LAGOAS E O RIO PREGUIÇAS
Meus Sertões esteve em Barreirinhas no mês passado, durante uma semana. Os guias de turismo informam que a melhor época para visitar a região é entre maio e setembro, principalmente entre junho e agosto, quando as lagoas do Parque Nacional estão no nível máximo. Em novembro, as lagoas menores estão secas.
Quem vê a quantidade de água do mar e do rio Preguiças, que tem 135 quilômetros de extensão entre Santana do Maranhão (há quem considere que seja em Anapurus) até a foz no Oceano Atlântico, tem dificuldades para entender porque o portal do paraíso estaria para se transformar em uma cidade do semiárido.
O nome do curso de água tem origem na presença de bichos-preguiças que habitavam as margens, além de suas águas serem mansas na maior parte do tempo. Um dos passeios mais procurados pelos turistas dura o dia todo, descendo o rio e passando por três povoados Vassouras, Mandacaru e Caburé.
No primeiro, pausa para compras, alimentação e para ver os micos, sempre dispostos a puxar cabelos ou pegar objetos dos visitantes. Na segunda parada, mais compras e uma barraca com dezenas de bebidas típicas. Porém, a principal atração é o Farol da Marinha, cuja visitação é gratuita. Do alto de seus oito andares é possível ter uma bela vista da região.
Por fim, Caburé abriga uma pousada destruída pela ação do vento e da areia. Dela só resta um restaurante para que se possa almoçar. Chama a atenção também o Parque Eólico Delta 3, dividido em 15 empreendimentos e 172 torres. As instalações são exploradas pela Ômega Energia desde 2017.
Embora difícil de medir os impactos ambientais, desde a construção da usina eólica, a Ômega, foi criticada por ambientalista por remover dunas em área de proteção ambiental; instalar torres na rota de 17 espécies de aves migratórias, formando uma barreira de nove quilômetros para os pássaros e instalar canteiro de obras perto do local de desova de tartarugas.
A empresa mudou de nome para Serena, seis anos depois. A alegação para a troca foi que existia uma Ômega Energy, nos Estados Unidos. A empresa também possui complexos eólicos no Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia (dois) e Texas (Estados Unidos). Também operam pequenas centrais elétricas em Minas Gerais (duas) e Mato Grosso do Sul.
As belas dunas e lagoas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses são de uma beleza ímpar e proporcionam banhos refrescantes. Não dá vontade de ir embora. O problema é chegar até lá, mesmo em veículos com tração nas quatro rodas. O percurso acidentado faz os passageiros saltarem por cerca de 40 minutos e bater algumas vezes no conjunto de barras de metais colocados na carroceria da picape. A volta é o mesmo sacrifício. O pôr do sol compensa para quem não tem problemas nos joelhos e/ou na coluna.
As imagens do rio e das dunas podem ser vistas na seção galeria de Meus Sertões. Para vê-las, clique aqui.
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Notas de pé de página
[1] Indicador numérico que representa o déficit hídrico gerado pela insuficiência de chuvas diante da evaporação potencial de uma região. Este índice foi utilizado para delinear as zonas áridas do mundo no programa de inventariação de zonas áridas da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
[2] Água Doce do Maranhão, Barão do Guajaú, Brejo, Buriti Bravo, Caxias, Magalhães Almeida, Matões, Milagres do Maranhão, Parnarama, Santa Quitéria do Maranhão, Santana do Maranhão, São Bernardo, São Francisco do Maranhão e Tutóia.
[3] Relativos ao Espírito Santo, estado da região Sudeste. A palavra era usada pelos indígenas para definir plantações de milho e mandioca. A população de Vitória começou a chamar os povos nativos de capixabas. Depois, o gentílico passou a se referir a todos os habitantes do estado.
[4] Sudene inclui 16 municípios maranhenses na região do semiárido brasileiro. O Imparcial. 15 de maio de 2024. Consultado às 7h06min de 10/12/2024. Link: https://oimparcial.com.br/noticias/2024/05/sudene-inclui-16-municipios-maranhenses-na-regiao-do-semiarido-brasileiro/
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Legenda da foto principal: As lagoas menores secam em alguns períodos. Foto: Paulo Oliveira
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.