“O caminhante que passa pelas estradas seguindo
os rumos do sertão hoje carrega o telefone
no bolso. No entanto, nos tempos de nossos avós,
o caminho apavorava quem ia só. (…).
Antigamente sempre havia almas penadas perto.
Franklin Carvalho, no livro “Araci de Arrepiar”
Paulo Oliveira
Visitei Araci pela primeira vez no segundo semestre de 2019. Empolgado em desbravar histórias no Sertão dos Tocós, indígenas que habitavam a região no século XVII (17) procurei o Centro Cultural da cidade, onde conheci o professor e responsável pela instituição Pedro Juarez Pinheiro.
Pedro deu dicas para várias pautas. Ele ainda pediu informações ao talentoso escritor e jornalista Franklin Carvalho, autor de “Céus e Terra”, livro vencedor do Prêmio SESC de Literatura 2016 e do Prêmio São Paulo de Literatura em 2017 e de outros escritos saborosos. “Câmara e cadeia” (2004), “O encourado” (2009) e “A ordem interior do mundo” (2020).
De Franklin, um colecionador de histórias sobrenaturais, recebi indicações que permitiram contar a história de um raizeiro araciense que enfrentou forças do mal para não ser cooptado por elas e da baraúna, que fazia sombra para vivos e mortos que se aventuravam a enfrentar o sol no caminho para o cemitério da sede do município.
“Naquelas paradas os defuntos, enrolados, também se espreguiçavam na grama” – diz Franklin em seu mais recente livro, “Araci de arrepiar”.
É desta publicação que este texto trata. Produzido graças à lei Aldir Blanc, o livreto tem o tamanho e o número de páginas equivalente a um cordel. E mais importante: é gratuito. Para baixar acesse:
SENTADOS NA CALÇADA
As histórias de assombrações nos transportam ao tempo que nossas avós sentavam numa cadeira de balanço, na porta de casa, e contavam histórias para as crianças em um tempo em que não havia celulares, nem videogames e a imaginação era nossa maior aliada para navegar no mundo da fantasia.

Dividido em cinco histórias e 18 páginas, Franklin começa as aventuras fantasmagóricas com “Sombras no caminho”, falando de visagens e almas penadas. Prossegue com “Visagens atuais”, na qual destaca o medo que seus conterrâneos possuem de feitiços e recursos usados para cobrar dívidas, se livrar de inimigos e conquistar amores.
Em seguida, temos “Mutirão e assombração”, sobre uma casa mal assombrada e um trabalhador que decide desafiar a má fama do lugar; “A terra, o homem e a luta” sobre maldições modernas; e “Por que Matias Raizeiro deixou de ser curador”.
“Há anos venho capturando essas histórias interessantes” – diz Franklin.
Clique aqui para fazer download gratuito do livro
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Talvez o leitor esteja se perguntando porque Meus Sertões prefere contar essas histórias e/ou estimular seus seguidores a baixarem um livro “fantasmagórico” em tempos de tantos conflitos. Eis os nossos argumentos:
- As histórias permite que voltemos à infância.
- Resgatamos uma tradição.
- Franklin é um excelentes contador de causos.
- Em tempos de julgamento de golpistas, de mudanças climáticas, de governo Trump, do genocídio praticado por Israel e de outras atrocidades, fantasmas e assombrações são fichinha.
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Legenda da imagem principal: Fragmento da capa do livro “Araci de Arrepiar”. Reprodução
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.