A homenagem

NAS BARRANCAS DO VELHO CHICO

No piloto do paquete, o vei Germano preocupado com o vento disse a João Durim:
“João, rema senão vamos perder o balaio.”

Ele, remando, preguiçosamente, com as mãos, respondeu lentamente:

“Que nada Germano, aqui mesmo vai…”

Enquanto isso, o garoto Chico de Aurélio Baia, recolhendo o peixe no calão da rede, proseia:

“Eta! Zé Carcunda, essas mininas da Lagoa da Taparica parece com as corvininha nas primeiras z’águas.”

“Chico, nem inventa, namorador na casa de Naninha é Setenta” – respondeu Zé.

“Eta! Nois, assistir jogo dos paraibano é um rebuliço, é um tal de ‘Bastião, incruza a bola pelo acero, pra que? Pra fazer o gorro, quando for no ataque o time tem que espalhar’”.

Germano, senhor de feição e expressão meditabunda, sentado no piloto do paquete, meditou,  tomou o rumo da prosa e disse:

“Morrer no tabuleiro é ser homenageado de forma exótica: ‘Morreu, fi duma égua’, essa é a homenagem que Chico de Deda presta a família do defunto durante o velório, mas na sentinela de Mané Capote o homem engoliu o grito, mesmo assim ele dirigiu-se ao bar de Gilberto Botafogo, em Utinga, e disse: ‘Gilberto eu não gritei lá, mas vou gritar aqui: morreu safado vei.’”

Coisas de Xique-Xique (BA)

Arilson B. da Costa Contributor

Arilson Borges da Costa ,nasceu em 22 de fevereiro de 1970, em Xique-Xique – BA. Filho de sorveteiro e neto de pescador, é professor. Estudou contabilidade na escola pública de Xique-Xique, Bahia, porém em 2008 abandonou a área de exatas e passou a estudar letras vernáculas, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ao longo de sua vida acompanhou pescadores às margens do rio São Francisco, no intuito de entender o sotaque do povo ribeirinho, por isso migrou seu trabalho para escrita de contos e causos do povo.

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