A descoberta do fogo lá no surgimento das primeiras civilizações certamente deveu -se a incêndios provocados por raios que, de origens desconhecidas, causavam espanto e medo, mas não demorou a assumir caráter sagrado e a ser colocado a serviço do homem a tal ponto que maldita era a casa que não tivesse sempre um fogo aceso, o que era vergonha para o seu proprietário.
Religiões pagãs designavam e formavam sacerdotisas para zelar pelo fogo no templo e ainda hoje muitos ritos utilizam fogueiras ou velas em suas celebrações como é o caso mesmo do Cristianismo.
“Domar” e fazer uso do calor e da luz proporcionados foi aprendizado lento ao longo da história humana, mas o seu poder devastador ainda hoje assusta e contê-lo pode exigir esforços que o homem de lugares mais afastados não pode empreender. É quando a importância de rezadores dotados de poderes especiais, lançando mão de diferentes formas de deter o poder devastador do fogo, salvam roças, animais e pessoas.
Há até os que, especialíssimos, passam em meio às chamas sem que estas os toquem!
O jornal Correio Paulistano, na década de 50 do século passado, fala sobre o afamado Antônio Galdino que apagava fogo do mato usando um bom tição de fogo de sua própria casa, aproximando-se o mais possível do incêndio que inclemente vinha lambendo tudo. Ali soprava com vigor o tição até fazer labaredas que entortassem para o lado do fogaréu. Quando isto acontecia ele dizia: “O fogo da casa é batizado por isso que ele acabe com o outro que é pagão.”
De nossa pesquisa de campo trazemos hoje e mais uma vez o poderoso Pedro Santinho que, entre tantos poderes, podia apagar o fogo com reza forte.
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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.