Diante da caipora

A médica e pesquisadora de cultura popular Helenita Monte de Hollanda apresenta hoje um vídeo sobre a caipora, entidade da mitologia tupi-guarani que os sertanejos garantem que existe. Neste pequeno documentário, Dona Margarida, do povoado Olhos d’Água, em Tucano (BA) conta que seu vizinho conversava com a caipora – nome que vem do tupi caapora (“habitante do mato”). O vídeo de Helenita foi gravado no povoado de Olhos D’Água, em Tucano (BA). E narra castigos impostos pelo ser mítico a caçadores.

Esse ser encantado é representado de várias formas, pode ser uma mulher que chega a ter três metros de altura, um homem vermelho, um animal que fala ou caboclo que anda montado num porco do mato e tem os pés virados para trás, como podemos ver no artigo “O olhar vigilante da floresta”, publicado na revista Boitatá, do Grupo de Trabalho de Literatura Oral e Popular da Associação Nacional de Pós-graduação em Letras e Linguística (Anpoll). O texto relata 12 versões de episódios envolvendo a caipora coletadas em diferentes cidades baianas.

Esta é uma das imagens do (a) guardião (ã) da floresta. Reprodução do Pinterest
Uma das imagens do caipora.. Reprodução

“E eu vi aquela zoada: Eou-hou-hou-hou-hou, dez e meia, aquele barulho, aquele ruído danado! “Meu Deus, o que é aquilo?!” Aqui no sertão tem um animal que nós chamamo caipora. Essa que nós chama caipora diz que é a rainha do mato, a dona do mato, né? Ela encanta, pinta o sete! Aí nos tava mais os menino, nós veio lá, aquela zoada era qualquer coisa.” – conta Edmundo Cerqueira Campos, de Canudos.

Já os índios do Raso da Catarina ensinam como chamar este encantado:

“Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Esse assobeinho é um assobeio que a gente tem como tradição dos antepassados para chamar os encantados. “Agente tem conhecimento das mata que tem caça e cada caça tem o seu dono, né, e a gente tem muito segredo com essa coisa de mato.”

Para ler a publicação:

http://revistaboitata.portaldepoeticasorais.com.br/site/arquivos/revistas/1/10.%20O%20olhar%20vigilante%20da%20floresta.pdf

GUARDIÃO DOS ANIMAIS

A caipora reina sobre todos os animais e não poupa os caçadores que descumprem o acordo de caça feito por ele. Ela (e) é o guardião da vida animal e apronta ciladas para caçadores, principalmente, os que matam animais além de suas necessidades. As ações da (o) caipora incluem afugentar presas, espancar cães farejadores e desorientar os caçadores, simulando o som dos bichos da mata. Só há um meio de se conciliar com ele: é deixando fumo de rolo no tronco de uma árvore. Os índios acreditam que o caipora teme a claridade, por isso se protegiam, carregando tições acessos durante a noite.

A palavra caipora também foi adicionada ao idioma português com outro sentido. Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, “ser caipora é o mesmo que ter azar, ter sorte madrasta, ser perseguido pelo destino (…)”

Caçador desiste da matança

https://youtu.be/v8Zm9Yfx7lw

Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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