A Assembleia Nacional da Pastoral da Juventude Rural Laura e Uedson, realizada no assentamento Normandia, em Caruaru (PE), entre os dias 18 e 23 de janeiro divulgou, ao final de evento, a carta de compromissos na qual se dispõe a lutar “contra toda forma de injustiça, provocada pelo sistema que impõe e utiliza os recursos naturais como forma de enriquecimento de poucos, e assim retirando o direito à terra, à água, e à vida digna da classe trabalhadora”.
Os participantes – centenas de jovens de 11 estados – reafirmaram “a opção pelos mais empobrecidos, a importância da articulação da fé e ecologia, e o papel fundamental do jovem camponês neste processo”. E reconhecem que “as causas do machismo e patriarcado que provoca a homofobia e a violência contra as mulheres é mais forte no campo, sendo necessário avançar no debate destes problemas.
O documento afirma que “este governo não representa os anseios das juventudes”, que estão em luta permanente para que se estabeleça o estado democrático. E repudia toda e qualquer forma de criminalização dos movimentos sociais, sendo necessária a construção de um projeto popular para se contrapor ao atual modelo excludente.
ÍNTEGRA DA CARTA
“Ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa”. (Mt 5,13-14; 13,33)
Somos jovens camponesas(es) vindas e vindos dos estados de BA, PE, ES, RN, PB, CE, AC, AL, SE, RS, RJ, MG, para a VIII Assembleia Nacional da PJR Laura e Uedson, no assentamento Normandia, Caruaru – PE, entre os dias 18 a 23 de janeiro de 2017, inspirados no tema: Mãe Terra – Comunidade – Soberania Alimentar; e no lema: PJR: Mística, luta e resistência! Avaliamos a nossa caminhada como PJR, refletimos sobre a atualidade política e agrária no Brasil, reafirmamos nossa missão, elaboramos o plano de ação para os próximos quatro anos (2017 – 2020) e celebramos a nossa cultura e a nossa fé.
O estudo da Laudato si’ como forma de aprofundamento do ensino social da igreja, que nos leva ao cuidado da nossa casa comum, nos colocando na luta contra toda forma de injustiça, provocada pelo sistema que impõe e utiliza os recursos naturais como forma de enriquecimento de poucos, e assim retirando o direito à terra, à água, e à vida digna da classe trabalhadora, em especial os camponeses. Reafirmamos a opção pelos mais empobrecidos, a importância da articulação da fé e ecologia, e o papel fundamental do jovem camponês neste processo.
O sistema político econômico em vigência no país é excludente e contraditório, onde a burguesia (que representa 1% da população) controla os meios de produção, comunicação, provocando as crises ecológica, econômica, cultural, politica, hídrica e na tentativa de se salvar, utiliza do ataque direto aos direitos da Classe Trabalhadora e que se apropria dos territórios dos camponeses e dos povos tradicionais, provocando retrocessos, aumento do conservadorismo e a criminalização dos movimentos sociais. Cabe à nós juventude o enfrentamento e resistência a este modelo de sociedade organizando a juventude camponesa, através do trabalho de base.
Reafirmamos o Nordeste como terra de missão prioritária, pois a maioria dos jovens camponeses em situação de extrema pobreza está nesta região.
Compreendemos que no campo é ainda mais forte as causas do machismo e patriarcado que provoca a homofobia e a violência contra às mulheres em suas diferentes formas, onde devemos avançar no debate destes problemas sociais em vista da construção do reino de Deus na terra.
Animamos a juventude camponesa do Brasil, que busquem permanecer firmes na luta pela efetivação das políticas públicas para o campo, com garantia de renda, gerando melhoria na condição de vivência com sustentabilidade; a permanecer no seu espaço, se desenvolver e não se esquecer de sua origem.
Portanto, desejamos que toda a juventude possa estar sempre em comunhão e sintonia com Deus, para que seja seu guia na espiritualidade e na solidariedade trabalhando e buscando harmonia com o meio ambiente, promovendo a cultura da paz com respeito às diversidades culturais, de raça e gênero.
Que nenhum direito seja negado no combate a toda forma de violência ou negligencia por parte dos nossos governantes. Para isso, é preciso que a juventude desperte e desenvolva o seu protagonismo, sendo o provedor de sua própria história em busca da dignidade.
Certos de que este governo não representa os anseios das juventudes, estamos em luta permanente para que se estabeleça o estado democrático de direito. Repudiamos toda e qualquer forma de criminalização dos movimentos sociais e convidamos a todas e todos para a construção de um Projeto Popular, resistindo e se contrapondo a este modelo excludente. Reafirmamos, ainda, a opção pelos mais pobres e excluídos e nos colocamos a serviço da juventude camponesa.
Assim, a juventude da PJR reivindica os direitos que a ela são negados, lutando em defesa da soberania nacional e o combate ao agronegócio, que tanto prejudica a juventude camponesa e o campesinato. Reivindicamos a garantia dos territórios das juventudes, a partir de uma Reforma Agrária Popular e de políticas de acesso à terra que permitam que os jovens desenvolvam sua autonomia, promovendo a agroecologia e a economia solidária.
Assumimos como prioridade o trabalho de base, a formação e o fortalecimento dos Grupos de Produção e Resistência.
Nenhum camponês sem terra
Nenhuma família sem teto
Nenhum trabalhador sem direitos
Participantes da VIII Assembleia Nacional da PJR.
- Author Details
Nascido em Teixeira de Freitas (BA), Joabes R Casaldáliga, aos 10 anos, participava das reuniões das Comunidades Eclesiais de Base. Era levado pela mãe, adepta de religião de matriz africana, que ia aos encontros para discutir os problemas da comunidade em que moravam, em Itamaraju. Cresceu entre o sincretismo, cantos, rezas, benditos, incelenças e a luta pela reforma agrária. Sua vida foi marcada por um encontro com José Comblin, padre que lançou as bases da Teoria da Enxada. É fotógrafo, comunicador popular e integrante da Pastoral da Juventude Rural.