Se não fosse o artesanato e o Bolsa Famíla, Ana Rita Carneiro, moradora do povoado de Terra Branca, em Riachão do Jacuípe, não conseguiria arcar com as despesas para o tratamento do filho Anderson, que nasceu com catarata congênita, o que poderia levá-lo à cegueira. Periodicamente, há oito anos, Ana Rita se desloca para Sorocaba (SP), onde o menino é atendido e aguarda uma vaga para cirurgia no Hospital BOS.
Quando Anderson tinha três anos, Ana ficou desesperada porque não conseguiu tratamento adequado para ele em Salvador. Um dia, ao receber a visita do irmão que mora em Boituva (SP), soube da existência do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) e foi incentivada a levar a criança para lá.
Passou cinco meses na casa do irmão e de primas que também migraram para o interior paulista para conseguir tratamento. Foram elas, aliás, que deram força e ajudaram a comprar o material para Ana fazer pintura em tecidos e ter renda própria. Também foram suas freguesas iniciais.
Os primeiros trabalhos eram trilhos de mesa. Em seguida, vieram panos de prato, conjuntos de banheiro e cozinha e colchas.
DIAGNÓSTICO
Na primeira consulta, ficou constatado que além da catarata, o menino tinha elevado grau de miopia – 7,75 graus em uma vista e 6,25 em outra.
Entre 2009 e 2011, as consultas eram trimestrais. Ana Rita trazia para Riachão do Jacuípe os pedidos de São Paulo e os entregava na viagem seguinte.
Graças ao Bolsa-Família, conseguiu adquirir o material para atender as clientes. Parte do lucro, usava na compra de mais tintas e pincéis. O restante, como ocorre até hoje, era usado para a compra de passagens e gastos no período de permanência em São Paulo.
Bem que Ana pensou em se mudar para Boituva ou Sorocaba, mas o marido e parte da família não concordaram. Há dois anos, ela teve outro filho, João Vítor.
BUSCA POR ENCOMENDAS
O passo seguinte foi unir-se ao grupo Mulheres do Mucambo para obter mais encomendas. No início, fazia pinturas e ajudava a vender a produção. A empreitada durou um ano. A distância de sua casa para a Fazenda Colher de Pau e a falta de transportes fizeram a artesão optar pelo trabalho por conta própria.
Ana disponibilizou fotos de suas pinturas em grupos de Whatsapp e no Facebook e começou a vender seus produtos em outras cidades – Nova Fátima e Pintadas – porque a associação do povoado onde mora não se mobilizou para desenvolver trabalho artesanal.
Foi preciso coragem, disposição, organização e ajuda de amigos para Ana Rita para enfrentar a situação. Ela temia que a doença de Anderson evoluísse rapidamente. Hoje, as idas ao hospital são anuais. A catarata está estabilizada e a miopia regrediu (5 e 2,75 graus). O menino vai fazer 11 anos. A espera pela operação continua.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.