A notícia chega 43 quilômetros antes do destino. Em Japaratuba (SE), terra do artista plástico Arthur Bispo do Rosário, a coordenadora do Memorial Histórico Dr. Otávio Accioli Sobra, Magnólia Góis Menezes, informa que a Lagoa da Salomé, em Cedro de São João, uma das maiores do estado, está praticamente seca.
Nos últimos três anos, a estiagem prolongada e o lançamento de esgotos e lixo nas águas castigaram a Salomé. Outro fator que contribuiu para esta situação ocorreu em 1974, quando as águas do rio São Francisco deixaram de abastecer a lagoa porque foram desviadas para projetos de irrigação.
Na chegada ao Cedro, tristeza: os peixes tinham morrido; uma fina lâmina de água e poças no lugar onde antes havia fartura; outra parte se transformou em várzea seca.
Até dezembro do ano passado havia água. A situação se agravou em fevereiro quando o principal espelho d’água da cidade de seis mil habitantes começou a desaparecer. Ao povo, restava fazer orações.
Para os antigos moradores, a seca da Salomé era impensável no passado. Eles pescavam e consumiam tilápias e tambaquis. A lagoa também era usada por lavadeiras e para banho de crianças e adolescentes. O principal problema era causado por criadores de cavalos e jegues, que insistiam em lavar seus animais no local.
ATOS DE FÉ
O jovem Haleph Ferreira, que havia retornado de Juazeiro do Norte (CE), onde foi pedir bênção e chuva, diante do agravamento da situação, decidiu fazer uma foto que foi reproduzida por sites e jornais do sul do país.
Haleph, ao retornar de Juazeiro do Norte (CE), onde foi pedir bênção e chuva para sua cidade, colocou uma pequena estátua de Nossa Senhora de Aparecida na lagoa seca e fez a fotografia. Justificou sua ação como um ato de fé em ano mariano e a escolha de Nossa Senhora, padroeira do Brasil, por sua imagem mais famosa ter sido encontrada em um rio.
Na ocasião, a secretaria estadual de Recursos Hídricos anunciou que para 90 dias seguintes a previsão era de chuvas esparsas, com volume total de, no máximo 30 mm, insuficientes para resolver o problema.
Com a aproximação da Semana Santa, o padre Paulo César decidiu incluir a lagoa no roteiro das procissões e fez celebrações nas primeiras horas do dia em um altar feito com galhos e folhas às margens da Salomé, cuja lenda diz ter sido uma índia apaixonada que morreu afogada ali.
Padre Paulo teve o apoio de fiéis e de professoras e alunos das escolas da comunidade, que enfeitaram o local e fizeram coleta do lixo jogado na lagoa. Durante vários dias, bem cedo, as orações e procissões se repetiram.
Na Semana Santa, choveu durante quatro dias seguidos, Na Sexta-Feira da Paixão, caiu um temporal que encheu a Salomé, a Lagoa do Algodão, no povoado de Poço dos Bois, e os reservatórios da região.
Para o padre Paulo César uma bênção de Deus e motivo de intensa satisfação.
Para a população, um milagre.
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(*) Colaboraram Angelina Nunes e Luiz S. Britto
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.