Arte quilombola

As mãos das irmãs Selma Teixeira de Araújo, 37 anos, e Silvana Teixeira Brandão, 40, se movimentam numa velocidade espantosa. Em alguns momentos, o ritmo do entrançar da palha chega a ser mais rápido que a fala. As artesãs do povoado de Campo Grande, em Santa Teresinha (BA), têm pressa. Elas precisam confeccionar 60 peças –malas, bolsas, bocapius (sacolas), tapetes e esteiras – que serão enviadas para uma feira em Salvador.

Silvana inicia o traçado, enquanto Selma costura. Foto: Paulo Oliveira

Selma e Silvana são duas das 12 mulheres cadastradas no grupo de artesanato da Associação Comunitária Rural dos Remanescentes de Quilombo. A entidade, surgida em 1986, é o local onde as trabalhadoras manuais se reúnem uma vez por semana para transformar as palhas de licuri e pindoba em belos produtos. Quando os pedidos são muitos, como desta vez, elas dedicam pelo menos dois dias à produção de artesanato.

A família Teixeira chegou ao povoado há 30 anos. Veio de Ipirá, a 110 quilômetros de distância, em busca de serviço na lavoura e de farinha que na cidade de origem era substituída pelo milho pisado em pilão.

O que os Teixeira produziam na roça era vendido na feira de Castro Alves, município vizinho, onde era preciso ficar de olho no tabuleiro e outro no cavalo e no burro que transportava a carga, pois os roubos de animais eram frequentes.

Silvana tira o talo da palha para não machucar as mãos ao trançar. Foto: Paulo Oliveira

Silvana lembra que aprendeu a trançar palha com 10 anos. A mãe fazia artesanato para comprar roupas, mas não tinha paciência para ensinar as filhas. O jeito foi observar como o trabalho era feito. Logo passou a produzir suas primeiras esteiras.

TAREFA ARRISCADA

Para as mulheres do povoado de Campo Grande a pior parte do processo artesanal é pegar a palha no mato, uma tarefa arriscada. Elas saem de casa antes do dia clarear, por volta das 4h30. Mesmo nos dias de muito calor, vão vestidas de calça comprida, blusa de mangas longas e sapatos, o que não impede de serem furadas por espinhos. Outra preocupação é com os animais, principalmente cobras.

Após uma hora e meia de caminhada chegam à serra, onde permanecem por cinco ou mais horas. Os grupos são formados por três ou quatro artesãs. Elas arrancam palha suficiente para a produção de um mês. E retornam quando o sol está a pino. Às vezes, se perdem na mata.

A palha é tirada das palmeiras ainda verde. É preciso colocá-la para secar. Se chover, o processo leva quatro dias. Depois da secagem, é a vez da pintura com anilina. Só depois que a substância seca é a vez de trançar.

As tranças variam de acordo com o que será produzido. A mais fina é para o chapéu, a mais larga vira esteiras.

O TRANÇADO

É Selma quem explica como é feito o trançado. Diz ainda como é empregado o dinheiro arrecadado. Uma mala com zíper, dependendo do tamanho, custa entre R$ 50 e R$ 60. Já o bocapiu é R$ 35.

Depois do trançado é a vez da costura, que também é feita manualmente (clique no vídeo para ver como Selma faz). A última etapa é a comercialização. Às sextas-feiras, elas oferecem os produtos na Feira de Santa Teresinha.

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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