Martim rezador

Martim Tintino, beiradeiro de nascença, benzedor de profissão, benzia sem cobrar um tostão. Homem de baixa estatura trajava terno azul, pitava cigarro de palha, andava a pé, bengala à mão.

Todas as tardes, as crianças esperavam sua passagem na rua, para ajoelhar aos pés do benfeitor, querendo pegar-lhe da mão para beijar e pedir balas de rapadura, proferindo agradecimentos e bênção.

As benzeduras dos homens Martim seguiam sempre a mesma cantilena:

“… carne quebrada, osso rendido…”

As benzeduras nas mulheres ganhavam novos componentes, novos termos que chegava a provocar desconfiança e estranheza por parte das mulheres. Assim o benzedor dizia:

“Deus que te cria pra mim ma fia, do imbigo pra baixo é de Martim Tintino, do imbigo pra riba é de Deus. Tira a roupa pra eu te rezar”.

E uma delas reagiu com voz trêmula e baixa

“Mas, seu Martim eu nunca mostrei minhas carnes pra ninguém.”

O benzedor insistiu explicando com uma voz mansa e macia:

“Mia fia, tem que tirar a roupa pra reza entrar. Vestida a reza não entra.”

“Já vem ele com as benzedura. Eu num acredito nessas coisas” – disse a outra moça, que estava ao lado.

Mas, já despida da camisola, uma senhora de idade que aguardava para ser benzida também, testemunhou as benzedura do beiradeiro benzedor:

“Oxê, muié! Pense num benzedor bom é Martim Tintino. Quebranto, mau-olhado, espinhela caída, caxumba, bixiga, rubéola, catapora e sarampo pode pedir pra benzer que eu agaranto.”

Arilson B. da Costa Contributor

Arilson Borges da Costa ,nasceu em 22 de fevereiro de 1970, em Xique-Xique – BA. Filho de sorveteiro e neto de pescador, é professor. Estudou contabilidade na escola pública de Xique-Xique, Bahia, porém em 2008 abandonou a área de exatas e passou a estudar letras vernáculas, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ao longo de sua vida acompanhou pescadores às margens do rio São Francisco, no intuito de entender o sotaque do povo ribeirinho, por isso migrou seu trabalho para escrita de contos e causos do povo.

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