SOTAQUE DE UM POVO NAS BARRANCAS DO VELHO CHICO.
Nascer no interior é um privilégio medonho, e nascer no interior da Bahia, ah! isso é presente divino. Sentar à beira do cais, em dia de feira, na cidade de Xique-Xique (imagina aí), é ter o prazer de deliciar com uma prosa dessa:
“Vai dizer que Nelsin, não levanta mais a cigana, é mesmo que benzer pólvora com tição de fogo, o homem vira 00um bicho, ele disse que nem precisa tomar viagra, basta beber o chá da flor do moleque-duro. Já Aroldo da Ponte da Suacica, disse que faz é comer semente de melencia, esses dois são mais incutido que Orelo Baia.”
“Oh! Saudade do meu tempo de muderno, num precisava beber nada disso, porque a gente era criado em riba do caldo da guerra do cari, no caldo de traíra, comia cabeça de curimatá, ova de piranha, e depois de uma rapadurinha com farinha, bebia uma aguazinha fresca da moringa. Cê num viu Zé Francisco, mesmo com selviço pesado daquele, judiado na rede de Caroá, inda fez um fi depois do sessenta.”
COISAS DE XIQUE-XIQUE NA BAHIA
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DICIONÁRIO BEIRADEIRO
Cari, traíra, curimatá, piranha – Peixes.
Caldo de guerra – Caldo feito com as membranas respiratórias dos peixes
Orelo Baia – Senhor de mais de oitenta anos metido a ser namorador
Moleque-duro – Planta medicinal cujo efeito, segundo os beiradeiros, cura a impotência e falta de ereção.
Rede de caroá – Pescaria artesanal com rede de arrasto feita de caroá.
- Author Details
Arilson Borges da Costa ,nasceu em 22 de fevereiro de 1970, em Xique-Xique – BA. Filho de sorveteiro e neto de pescador, é professor. Estudou contabilidade na escola pública de Xique-Xique, Bahia, porém em 2008 abandonou a área de exatas e passou a estudar letras vernáculas, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ao longo de sua vida acompanhou pescadores às margens do rio São Francisco, no intuito de entender o sotaque do povo ribeirinho, por isso migrou seu trabalho para escrita de contos e causos do povo.