SOTAQUE DE UM POVO NAS BARRANCAS DO VELHO CHICO
Na beira d’água o coro comeu/
Pandeiro trinou/
Violão respondeu/
Iaiá peneirou/
Ioiô sambou.
E na beira d’água o coro comeu/
Passarim cantou/
Ioiô peneirou/
Na palma da mão/
o samba esquentou.
É samba de rio, samba de sereia/
Iaiá vadiou, Iaiá vadea/
Rodando, rodando, na areia/
vadea vadea, vadea…/
vadea Iaiá, na areia.
A viola chamou/
Belmiro respondeu/
Em semicolcheia a caixa entrou/
Samba no pereiro/
Nego sambou.
Pascoal na viola o samba comia/
Na casa de farinha caldeirão fervia/
No batizado de Dalton, o bicho pegou/
Samba de roda/
Todo mundo sambou.
A gengibirra Germano cuidava/
No balanço do barco ela fermentava/
No meio do samba Germano gritou/
Disaréda, afasta meninada!…/
Hoje o barril num está com nada.
A todo vapor o estampido anunciava/
Que a tampa do barril/
Pelo rio voara/
E a gengibirra de Germano, que já era pouca/
Acabara.
Coisas de Xique-Xique, na Bahia.
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Dicionário Beiradeiro
Gengibirra – Bebida artesanal a base de gengibre, fabricada por apenas um beiradeiro da região.
Pereiro – Rancho de pescadores.
- Author Details
Arilson Borges da Costa ,nasceu em 22 de fevereiro de 1970, em Xique-Xique – BA. Filho de sorveteiro e neto de pescador, é professor. Estudou contabilidade na escola pública de Xique-Xique, Bahia, porém em 2008 abandonou a área de exatas e passou a estudar letras vernáculas, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ao longo de sua vida acompanhou pescadores às margens do rio São Francisco, no intuito de entender o sotaque do povo ribeirinho, por isso migrou seu trabalho para escrita de contos e causos do povo.