Mitologia do rio

Saindo da rodovia, atravessamos o São Francisco em direção a Pão de Açúcar, pequeno município alagoano onde ficava o nosso destino – Ilha do Ferro, lugar em que encontramos artistas populares e pessoas nativas como Aberaldo, que tinha muito o que nos contar sobre as crenças ribeirinhas que povoam o imaginário popular da região.

Boitatá ou Fogo Corredor, Negro d’Água, Zumbi, Caipora, o sono do rio… sobre isto conversamos no alpendre arejado e acolhedor de sua casa-atelier. Muito ele viveu e experienciou, mas também relatou dos seus mais velhos as crenças, algumas coincidentes ao longo de todo Velho Chico, outras com variantes próprias que, não sendo excludentes, vão compondo uma geografia de mitos e lendas que só engrandecem a nossa Cultura Popular.

O Boitatá, por exemplo, é um mito indígena, simbolizado por uma cobra de fogo. Está relacionado com a indicação de tesouros ocultos, a proteção dos campos contra incêndios ou uma encarnação de alma penada.

Diz a lenda do Negro d’ Água que ele habita rios como o São Francisco e Grande. Negro, careca e com mãos e pés de pato, este ser encantado derruba a canoa dos pescadores se eles não lhe derem cachaça e fumo. Sem receber o tributo, ele parte anzóis, fura redes e assusta. Em Juazeiro (BA) há uma estátua com cerca de 12 metros de altura, construída dentro d’água.

A palavra zumbi vem do quimbundo nzumbi. Sua origem seria a mitologia africana. É um dos elementos que deram origem ao nosso saci-pererê. Essa alma desorienta caçadores com seus longos assobios. Os animais percebem sua presença.

O caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. Vive nas matas e florestas e aterroriza as pessoas. É capaz de trazer má sorte e até causar a morte. É representado por um índio de pele escura, ágil e nu, que reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. O caipora vive montado em um porco do mato. Protege os animais, afugenta as presas, espanca os cães farejadores e desorienta os caçadores. O único meio de se proteger dele é deixar fumo de rolo no tronco de uma árvore.

Existe ainda a crença de que o rio dorme por um ou dois minutos quando suas águas estão paradas. Fica louco quem tomar banho no São Francisco nessa hora.

Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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