No dia 29 de agosto de 2018, Meus Sertões publicou reportagem sobre uma inovação que criadores de gado leiteiro de Catingal, distrito de Manoel Vitorino, no sudoeste baiano, usavam para aumentar a produção: a utilização de música sertaneja para relaxar as vacas durante a ordenha.
Nessa viagem, conhecemos o pequeno Eduardo. À época com 6 anos, o menino andava com desenvoltura pelo curral e já sabia ordenhar. O pai, Leandro Barros, 32, estava radiante com o guri e com as melhorias que implantava na propriedade que adquiriu em 2012.
Na semana passada, Meus Sertões recebeu o vídeo que publica hoje de Ivanda Meira, tia do menino e parceira do site. Na mensagem enviada, ela dizia que o menino era danado e vibrava com a produtividade da vaca que ganhou do pai. Segundo Edu, Negona, 7 anos, cria da fazenda, é capaz de produzir 50 litros de leite por dia.
A contagem que ele faz se baseia na quantidade de baldes – três, de manhã, e dois, de noite – de leite que o animal cruzado com exemplar da raça schwyz (também chamada de pardo suíça) produz. No entanto, é preciso relativizar. Embora recordista de produção da fazenda, nem sempre os baldes de 10 litros estão plenamente cheios.
O vídeo que demonstra a alegria do menino foi gravado por sua irmã, que o entrevista enquanto ele e o pai ordenham a vaca ao mesmo tempo. Um momento de grande felicidade para todos os envolvidos.
A CONVERSA
Edu: “Aí minha gente, essa vaca é boa de leite. 40 litros. É boa de leite”
Irmã: “Aaahh doido!”
Pai: “Quantos litros essa vaca é, Eduardo?”
Edu: “Rapaz, é boa!”
Irmã: “Tu tiras leite aí, Edu?”
Irmã: “Aqui é ordena, né Edu?”
Edu: “É ordena beneficiada, que não gasta energia”
Irmã: “Aaahh doido!”
Pai: “Mais outro. Já tirei um (balde)”
Irmã: “Daqui a pouco tira mais”
Edu: “Aí minha gente! Tem que sempre…pra aproveitar a vaca…”
Irmã: “Vai Eduardo, já tá chegando?”
Edu: “Já tá chegando a medida de 10 litros”
Irmã: “Dá quantas medidas essa vaca?”
Edu: “De manhã aqui dá três medidas. De tarde aqui dá duas”
Irmã: “Aaahh doido!”
Edu: “É 50…”
Irmã: “Essa vaca é retada mesmo!”
Edu: “De manhã e de tarde ela dá 50 litros”
Pai: “Vai subindo e descendo com a outra mão”
Edu: “Iiiipiiiiihhhh!””
Pai ri
Pai: “Eu vou tirar outra, tu não tirou a tua ainda”
Irmã: “Eduardo tá fraco, viu?”
Edu: “Eu sou é fraco não, essa ordena é beneficiada”
Irmã: “Menos, viu Du?”
Edu: “Eu pego rojão”
Irmã: “E como chama essa vaca?”
Edu: “Negona, Negona”
Irmã: “Tem quantos anos, ela?”
Edu: “Tem sete anos. Vaca nova”
Irmã: “Tem quantas criação?”
Edu: “Aqui é de quarta filha”
Risos da irmã e do pai.
Pai (sobre a quantidade de leite no balde): “Aí tá bom, levanta”
“Deixa eu ver, Du?” – irmã
O menino levanta e carrega o balde para o reservatório.
A RAÇA SCHWYZ
Os criadores de gado pardo suíça definem as vacas como “dóceis, longevas e resistentes”. Elas se adaptam a diferentes temperaturas e, por isto, são criadas diferentes estados brasileiros. Dizem ainda que por ser uma raça rústica, exigem um pouco menos de cuidados.
Três outras vantagens: dificilmente ficam doentes, permanecem mais anos em lactação e produzem quase a mesma quantidade de leite que as vacas holandesas (30 litros, em média, por cabeça). A diferença está no teor de gordura e proteína – maior no caso do pardo suíço. Sua pelagem varia de pardo claro ao cinza escuro. As fêmeas chegam a pesar 600 kg.
Esta raça é uma das mais antigas do mundo. Sua origem é estimada em 1.800 A.C. (antes de Cristo). No Brasil, chegou no início do século 20. O primeiro registro foi feito no Rio Grande do Sul, em 1905. Hoje, os maiores criadores estão no Nordeste e em São Paulo.
Para ler a matéria sobre o relaxamento do gado com música sertaneja acesse:
Música sertaneja embala produção de leite
- Author Details
Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.