Cruz de Maria

Em viagens por rodovias e estradas ainda mal delineadas como simples picadas encontramos as marcas dos que se foram materializadas pelo amor dos que ficaram a chorar saudades e cultivar lembranças.

As cruzes são universais nos caminhos brasileiros. Frequentemente pobres e caídas, mas também vistosas e chamativas. Simples madeiro ou elaborados oratórios.

Marcam onde tombou um vivo em morte inesperada geralmente causada por acidentes. Mortes assim requerem cuidados, ensinam os manuais de bem morrer vindos da Idade Média que recomendam prescrições específicas espirituais e materiais para que o defunto adormeça em paz à espera do Grande Juízo.

Colocação de pedras nas cruzes na beira de estradas é antiga tradição originária do judaísmo. Reprodução de vídeo.
Colocação de pedras nas cruzes é tradição originária do judaísmo. Reprodução de vídeo.

Morrer “de repente” não é nada bom e muitos consideram morte incompleta já que o seu agente não foi a mão do criador. Fica a alma por ali vagando sem pouso até que o seu dia marcado chegue.

A cruz marca o espaço e salva os defuntos de forças do mal que o possam atrair. Ali onde cai o morto o espaço se sacraliza e a cruz como símbolo de salvação – morte e ressurreição – garante um lugar de repouso e lembra aos passantes a efemeridade da vida. Circunstantes tiram chapéus, debulham terços, pronunciam rezas rápidas e colocam pequenas pedrinhas, costume tão remoto vindo do Judaísmo, marcando a sua presença e piedade.

Das cruzes que pontilham as estradas brasileiras raramente conhecemos história. Algumas viraram monumentos e ponto de romaria. Outras tombam por aí esquecidas sem pedra e sem flor…

Hoje, a cruz de Maria Aparecida ganha vida na voz da sua mãe que nos conta a história e as graças que a alminha menina um dia deu ao povo alcançar.

Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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