Não vamos sucumbir

“Vozes Amazônidas: Barcarena resiste”, feito por equipe da Universidade Federal do Pará (UFPA), com mentoria de Meus Sertões, foi premiado no 14º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão.  O documentário é um alerta contra projetos desenvolvimentistas devastadores.

Participar da formação de jovens jornalistas é uma de nossas missões. Desde 2016, orientamos dois trabalhos de conclusão de curso a partir do projeto Meus Sertões Universidade e fomos mentor de sete grupos de universidades federais. ganhadores do Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão (PJJFPJ), promovido pelo Instituto Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Além disso, publicamos  diversos trabalhos acadêmicos, cuja temática está relacionada com o semiárido.

Equipe da UFPA: professora Célia, Leandra, Ana e Jambu.

Nesta segunda-feira, em São Paulo, Ana Vitória Monteiro, Leandra Lima de Souza e João Jambu, estudantes de jornalismo, e Célia Regina Chagas Amorim, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), receberam o troféu e o certificado do 14º PJJFPJ. Eles foram os autores do documentário “Vozes Amazônidas: Barcarena resiste”, que contou com a colaboração de Meus Sertões. Trata-se de um grito de alerta contra projetos devastadores que estão sendo implantados em diversos estados e cidades do país. A produção foi feita em três meses e 15 dias.

“Vozes Amazônidas” mostra os graves danos ambientais causados por mineradoras e empresas de exportação, instaladas na cidade de Barcarena, situada a uma hora de barco de Belém e a 75 quilômetros de distância. Expulsão de populações tradicionais e originárias, pelo menos 25 acidentes ambientais graves desde o ano 2000, poluição do ar e das águas, contaminação por metais pesados, morosidade da justiça, descaso das autoridades.

O documentário que você pode ver mais abaixo, serve de alerta ao que está acontecendo em diversos estados e cidades brasileiras, especialmente do Nordeste, onde as promessas de progresso não passam de “um desenvolvimento tão destrutivista”, como diz Chico César em uma de suas canções. Na Bahia, por exemplo, governada por Rui Costa, que se apresenta como integrante de um partido progressista, mas age como se fosse bolsonarista, há vários exemplos similares a Barcarena, graças a facilidade com que são distribuídas licenças para instalação de mineradoras, eólicas, mega empresas de agronegócios e outros projetos faraônicos.

Um dos 25 desastres ambientais ocorridos em Barcarena. Reprodução do documentário

O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), presidido por Márcia Telles, distribuiu licenças para supressão de vegetação e outorgas (instrumentos que define, dentre outras coisas, o quantitativo de uso de água), sem que haja uma fiscalização eficiente. Tudo isso agravado pela falta de transparência e o hábito do governador e da funcionária pública de não darem entrevistas sobre assuntos espinhosos.

O tema do 14º PJJFPJ este ano foi “Os gritos que o mundo dá e que o jornalismo precisa ouvir”. Todos os trabalhos apresentados no PJJ revelam situações críticas, para as quais “pinóquios velhos” – mais uma vez citando o cantor e compositor de Catolé da Rocha (Paraíba) –, se fazem de moucos. Já o jornalismo, representado por uma geração que nos orgulha, vai continuar denunciando e berrando para que o povo não seja massacrado pela ganância e interesses mesquinhos.

Assistam agora “Vozes Amazônidas”:

–*–*–

PROCESSO DE TRABALHO

Leia abaixo o resumo executivo, no qual a equipe conta como foram as etapas de produção, apuração e edição do documentário:

 

Vozes Amazônidas: Barcarena Resiste

Ana Vitória Gouvêa
Leandra Souza
Jambu Freitas

Célia Trindade Amorim (Orientadora)
Paulo Oliveira (Mentor)

Vozes Amazônidas, Barcarena Resiste, é um documentário jornalístico que coloca na centralidade a voz de um grupo de moradores de Barcarena, no Pará, afetado pela atividade industrial internacional.

As atividades para execução do documentário começaram com oficinas promovidas pelo Instituto Vladmir Herzog. Durante quatro dias, tivemos aulas com Rodrigo Alves e Bianca Vasconcelos; discutimos sobre técnicas de captação de áudio e de imagem, demonstrações de utilização de ferramentas e programas. Também participamos de uma oficina oferecida pela Faculdade de Comunicação da UFPA, para aprender a utilizar os equipamentos que levaríamos a campo: como câmeras, microfone, gravador e tripé.

Realizamos diversas reuniões de trabalho com a nossa orientadora, professora Célia Trindade Amorim; e com nosso jornalista-mentor, Paulo Oliveira. A finalidade era debatermos o encaminhamento do documentário, o roteiro, as fontes, as entrevistas e a pesquisa de materiais (documentos oficiais, manchetes de jornais, fotos e vídeos) que
dialogassem com as falas dos entrevistados.

Tivemos ainda uma reunião de consultoria com o jornalista, Raphael Castro. Ele atua em Barcarena há bastante tempo e trabalha no Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). Na consultoria, foram elucidados alguns questionamentos que tínhamos em relação a real situação das famílias que moram no município. Com isso, começamos a esboçar um roteiro que serviria de guia para a captação de imagens e entrevistas. Esse primeiro esboço não nos restringiu e foi mudado várias vezes.

Após essa elaboração preliminar, planejamos nossas viagens para Barcarena. Foram três viagens a campo, sendo as duas primeiras para realizarmos as entrevistas e a última para a captação de imagens de apoio. Por problemas técnicos de áudio, precisamos regravar duas vezes o material com uma de nossas entrevistadas. Ao todo, coletamos quase 10 horas de material.

Enfim, decupamos os vídeos e finalizamos o roteiro, orientados sempre pela professora Célia e pelo Paulo Oliveira. Subimos para uma pasta do Google Drive o material e entregamos para o editor de vídeo, nosso colega da Faculdade de Comunicação da UFPa, Bruno Roberto. Contamos com a colaboração de Felipe Gomes, também discente da
FACOM, para a elaboração do material gráfico contido na reportagem.

Com uma fita bruta, tivemos uma reunião sobre os ajustes necessários. Fizemos considerações e devolvemos para ajustes ao editor de vídeo. Até chegarmos numa versão final, o material passou pelo menos mais de três vezes pelo grupo e os orientadores.

Agradecemos a rica experiência jornalística que obtivemos ao longo de todo esse processo e a parceria do Instituto Vladimir Herzog e da Faculdade de Comunicação/UFPa na realização deste importante trabalho.

Paulo Oliveira Administrator

Jornalista, editor, professor e consultor, 60 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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