Uma nova espécie de peixe foi descoberta na bacia do rio Trairi, no Rio Grande do Norte, região onde predomina o bioma caatinga. O novo peixe recebeu o nome de Hypsolebias lulai, em referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O animal foi descrito por cientistas do Instituto Peixes da Caatinga, das universidades federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade de Taubaté em um artigo publicado nesta sexta-feira na revista “Neotropical Ichthvologv“.
A espécie foi vista pela primeira vez em agosto de 2022 por um agricultor em um assentamento no Rio Grande do Norte, que fotografou o peixe e enviou a imagem para Telton Ramos, biólogo do Instituto Peixes da Caatinga e da UFPB. O pesquisador reuniu uma equipe e organizou uma expedição financiada pelos seguidores das redes sociais do Instituto Peixes da Caatinga para coletar amostras na região.
A nova espécie pertence a um dos grupos mais ameaçados do Brasil. Chamado de “peixe das nuvens”, ele surge em poças ou lagoas temporárias formadas após a chuva, que é quando os seus ovos enterrados eclodem e sua população se restabelece. Por esse motivo eles são popularmente chamados de “peixes das nuvens” ou “peixes das chuvas” pois no imaginário popular a sua origem se dá a partir das nuvens.
Como os seus parentes, o Hypsolebias lulai tem um ciclo de vida rápido de três meses para crescimento e reprodução antes da poça ou lagoa temporária secar e toda a população de peixes morrer.
O peixe mede cerca de cinco centímetros, apresenta um número maior de raios na nadadeira dorsal e de listras no corpo e coloração azul metálica, diferente dos parentes.
A localização dessa espécie chamou a atenção dos pesquisadores: o parente mais próximo dessa nova espécie está no Ceará, a cerca de 500 quilômetros de distância. Isso fez os pesquisadores questionarem como a nova espécie surgiu no Rio Grande do Norte.
“Todos os aparentados dentro do grupo estão relacionados aos rios Tocantins-Araguaia, São Francisco e Pacoti”, explica Ramos.
A presença de uma espécie do mesmo grupo tão longe de outras levanta algumas hipóteses sobre as mudanças dos cursos de rios, especialmente do São Francisco, ao longo de milhares de anos.
“Este rio sofreu várias mudanças, o que explica a existência de espécies parentes em lugares diferentes. É possível que ele já tenha se conectado ao rio Piranhas, que é o mais próximo de onde a nova espécie foi encontrada, mas ainda é preciso que mais estudos sejam realizados na região”, diz Fábio Origuela, co-autor do estudo.
Para os pesquisadores, a nova espécie também reforça a ideia de que a caatinga é um bioma diverso.
“Existe a ideia de que é um local pouco diverso, seco, mas ela é riquíssima em biodiversidade”, aponta Ramos.
A decisão de nomear o peixe em referência ao presidente Lula foi para dar mais visibilidade aos grupos de peixes das nuvens.
“Estamos aquém do que deveríamos no conhecimento da diversidade e conservação desse grupo de peixes, sabemos muito pouco ainda, e o que não tem nome, não é protegido”, afirma Ramos.
O grupo de pesquisadores espera prosseguir monitorando a população do Hypsolebias lulai com a ajuda de moradores da região onde foi encontrado e continuar preservando as poças para avaliar melhor o estado de conservação da espécie.
MAIS DETALHES
O Hypsolebias lulai é uma espécie da família Rivulidae, da ordem Cyprinodontiformes. As espécies Hypsolebias apresentam dimorfismo sexual: os machos geralmente são maiores e mais coloridos que as fêmeas.
A descoberta já foi feita com os animais ameaçados de extinção. Os autores o classificaram como CR (criticamente ameaçada) de acordo com as regras da International Union for Conservation of Naure [1] (IUCN), mas ainda é preciso passar pela avaliação do ICMBIO [2] (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para oficializar esse status.
Segundo os pesquisadores, a nova espécie enfrenta diversas ameaças, dentre eles, o fato de a região em que ela ocorre sofrer significativos impactos causados por desmatamento para aproveitamento agrícola. Além disso, foi registrada junto com uma espécie exótica, a tilápia (Oreochromis niloticus) que pode se alimentar dos ovos e dos filhotes do novo peixe.
O Hypsolebias lulai foi registrada em três corpos d’água na zona rural do município de Lagoa Salgada, Rio Grande do Norte, dentro da caatinga.
O nome foi dado como uma homenagem a Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil, responsável pelo restabelecimento de ações de preservação e valorização socioambiental e pela retomada do incentivo a ciência brasileira, fortemente atacadas e desestimuladas no governo anterior.
Outro objetivo do batismo é chamar a atenção para o grupo dos Peixes das nuvens (família Rivulidae), os mais ameaçados do Brasil.
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Pé de página:
[1] Tradução em português: União Internacional para a Conservação da Natureza.
[2] Órgão ambiental brasileiro responsável por propor, implantar, gerir e proteger as unidades de conservação federais.
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Fundada em 2020, a Agência Bori apoia a cobertura da imprensa de todo o país à luz de evidências científica. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a Bori como iniciativa inovadora no apoio à cobertura de Covid-19. O nome da agência é uma homenagem à pesquisadora Carolina Bori, primeira mulher a presidir a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), de 1987 a 1989.