A lavagem de Nossa Senhora da Ajuda

Pelo menos um ônibus e duas vans de clubes e cursos de fotografia, além de excursões organizadas por fotógrafos, saíram de Salvador para acompanhar a Festa de Nossa Senhora da Ajuda, em Cachoeira, neste domingo (12 de novembro).

Os festejos duram 17 dias. A programação varia de acordo com a data e inclui a realização dos ternos do silêncio, que percorre as ruas da cidade a partir da meia-noite; das crianças, das baianas; das ciganas; e o da saudade, encerrando o evento. Além dos desfiles, ocorrem ainda a lavagem da igreja, o tríduo e a procissão.

Baiana. Foto: Paulo Oliveira

Para os turistas e fotógrafos amadores e profissionais, porém, o nono dia – o da lavagem da área entre a igreja e a Casa da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte – e o último, quando desfilam os mandus (personagem folclórico do recôncavo baiano) , cabeçorras (fantasia de bonecos com cabeças imensas) e caretas (figuras festeiras multicoloridas e sem identidade) no terno Alvorada, que acontece as cinco horas da manhã, e entre as fanfarras, arrastando a multidão.

Hoje, falaremos apenas da lavagem. Baianas, músicos, pais de santos, grupos católicos da região se reúnem na Igreja Nossa Senhora da Conceição do Monte, construída em 1795. Consta que foi erguida por um rico senhor a pedido da filha, que teria sonhado com Nossa Senhora.

O Grupo da Alegria, formado por senhoras e crianças da vizinha Conceição de Feira, estava presente com 50 componente. Todas vestiam brancos e carregavam jarros com folhas e flores. Já Elza Medeiros, porta bandeira do “Louvores à N. Sra. da Conceição”, de São Félix, falou da alegria de estar presente no evento pela segunda vez, e lembrou que na outra margem do Rio Paraguaçu haverá a celebração de Santa Bárbara, no próximo mês.

“As prefeituras de Cachoeira e São Félix precisam se conscientizar de que é necessário organizar um calendário de festas com datas que não se choquem para movimentar as duas cidades” – diz Vando Amorim, integrante do terreiro Ilê Axé Obalajá, de Muritiba, e um dos responsáveis pela revitalização da festa do dia 4 de dezembro.

A primeira capela de Cachoeira foi construída na fazenda de açúcar de Álvaro Adorno, a princípio, em homenagem à Nossa Senhora do Rosário, entre 1595 e 1606. João, bisneto do latifundiário reconstruiu a igrejinha entre 1673 e 1687, usando pedra e cal, mudando a devoção para Nossa Senhora da Ajuda.

O templo está localizado em uma colina, no meio da cidade, cujo acesso é feito por três ladeiras. A entrada principal está voltada para o oeste, de onde se avista o rio Paraguaçu. Durante a lavagem, o sino toca, embora a igreja permaneça fechada. Suas principais imagens são Nossa Senhora da Ajuda, São Francisco de Assis, São Benedito, Santa Luzia, São Caetano e São Pedro. A capela foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1939. Setenta e seis anos depois foi restaurada.

Colares e contas. Foto: Paulo Oliveira

Durante o trajeto entre as duas igrejas, músicos ligados à irmandade que organiza a festa, desfilam pela cidade tocando marchinhas como “Cidade Maravilhosa” e músicas de diferentes ritmos – “Carinhoso”, “Amigos para sempre” e “Ê baiana”, dentre outras. Os fiéis e brincantes eram seguidos por vendedores de cerveja, água e refrigerantes, que aproveitavam o calor de 33 graus à sombra para lucrar.

Quando o grupo chegou à capela, mais de uma hora depois do início do trajeto, iniciou a lavagem. A água era borrifada com folhas ou derramando o conteúdo das quartinhas nas cabeças dos participantes. A representante da Irmandade se ajoelhou diante do portão de madeira da igreja, segurando um estandarte, rezou e agradeceu à Nossa Senhora por mais um ano. Nem bem terminou o ritual, a festa religiosa virou carnaval, com direito a desfile, música e dança pelas ruas da cidade.

Festa religiosa virou carnaval. Foto: Paulo Oliveira

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Galeria de personagens e detalhes da festa

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Nota da redação: Para atrair visitantes, pelo menos um organizador de expedição fotográfica estampou a foto de mandus em seu anúncio. No entanto, o desfile de pessoas fantasiadas como personagens do folclore do recôncavo só ocorre no último dia da festa. Portanto, é preciso ter cuidado na hora de contratar o serviço.

 

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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