A romaria de Finados em Juazeiro do Norte

Texto e fotos: Olga Leiria

-Fé. Uma palavra pequena, mas com imensuráveis demonstrações de sentimentos. No sertão do Cariri, a cidade de Juazeiro do Norte é tomada por milhares de pessoas de diferentes estados, que participam da romaria de Finados. Ela encerra os seis dias do evento mais procurado no ciclo de festividades no município de Padre Cícero.

Aliás, a notícia de que a exumação do servo de Deus, prevista para 2024, fez aumentar a visitação à Capela do Socorro, onde estão os restos mortais do religioso, que já é santo para o povo, mas está em processo de beatificação oficial para a Igreja Católica.

A romaria de Finados se estende de 29 de outubro a 2 de novembro. Os romeiros chegam a pé, de carro, de ônibus e até em caminhões paus-de-arara, proibidos de circular desde 2014 pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) por não oferecer segurança aos passageiros.

Vestidos de chapéu e com rosários no pescoço, os fiéis participam de missas e rezas nas igrejas de São Francisco, Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Muitos se aglomeram aos pés da cama e se ajoelham ao lado da sepultura do padre.

As luzes amareladas emanam dos velários e iluminam os rostos dos fiéis, que fazem pedidos ou agradecem por um milagre com olhos fixos no brilho das candeias. O movimento intenso permite a coleta de parafina derretida por meninos que a venderão para ajudar nas despesas de casa.

Nos primeiros dias de romaria, quando a noite cai, as ruas se enchem de romeiros e romeiras com cabelos molhados, cheirando a shampoo. As mulheres maquiadas esboçam sorrisos tímidos diante de alguma brincadeira feita pelos músicos. As barracas oferecem uma variedade de comidas típicas, além de cachorro-quente e batata frita.

Mesmo quem se divertiu até de madrugada acorda cedo para subir o Caminho do Horto. O percurso de quatro quilômetros é feito antes que o sol escalde o sertão. As pessoas sobem em silêncio. Alguns preferem rezar ou entoar cânticos. Tudo está tomado antes da primeira missa começar.

Uma imensa fila se forma para subir até os pés de Padre Cícero e dar três voltas ao redor da bengala dele. Há uma crença que o ritual garantirá a concretização do pedido, também escrito na imagem.

Para chegar ao Santo Sepulcro é preciso percorrer mais três quilômetros por dentro da caatinga. No trajeto, observa-se montes de pedras de todos os tamanhos. Os romeiros acreditam que deitando-se sobre algumas delas e sentando-se três vezes serão curados de dores nas costas. A quantidade de crenças é imensa.

A romaria de Finados termina com a Missa da Despedida, às 12 horas, do dia 2 de novembro. Padres e seminaristas recebem mensagens de fé e agradecimento e benzem objetos. No final da cerimônia, um religioso divulga o ranking de visitantes. Uma competição para saber qual estado trouxe mais visitantes. Geralmente, Pernambuco e Piauí disputam o primeiro lugar.

Chapéus na mão, a emoção toma conta de todos. É hora de acenar para a imagem de Nossa Senhora da Dores e se despedir:

“Adeus, Adeus Maria já vamos partir. Juazeiro deixando. Os vossos romeiros saudosos se vão com fé e esperança no seu coração”

CINCO ANOS DE ROMARIAS

Veja a seguir as fotos feitas durante as romarias entre 2012 e 2016.

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Olga Leiria Contributor

Nascida em Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná, teve seu primeiro contato com a fotografia ainda criança quando a mãe era zeladora noturna de um jornal na cidade de Pato Branco. Formou-se em jornalismo e especializou-se em fotografia para se comunicar com imagens. Passou pelas redações de jornais Tribuna do Paraná, Folha de Londrina e Diário do Pará. Também atuou em assessoria de imprensa e em campanhas eleitorais. Durante cinco anos participou da Romaria de Finados de Padre Cícero, onde captou as imagens e histórias.

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