Uma das grandes alegrias que este programa me deu foi poder trazer para o canal um rezador jovem de apenas 26 anos, pernambucano do Município de Dormentes que dá continuidade às tradições a ele passadas pelo seu padrinho, João, rezador afamado, que desde a sua infância notou-lhe a vocação ao serviço do outro e o ensinou a promover curas pelo poder de benzimentos.
Sempre esteve ligado aos mais velhos ouvindo preces e aprendendo rezas e benditos. Havia, no entanto, na cultura trazida pelo Padrinho João, uma interdição: nenhum homem poderia ensinar outro homem a rezar. A concessão aqui autorizada e que favoreceu Romário, veio do próprio padrinho diante do dom incontestável que o menino exibia.
Da sua avó, católica com as devoções próprias do seu tempo e lugar, veio-lhe a mão que o conduziu às primeiras novenas e o ensinou a rezar benditos. Ainda criança ela intuía o destino dele.
Do lugar também nos vem a tradição da Renovação do Sagrado Coração de Jesus realizada anualmente nas casas e precedida por novenas e entronização da imagem num altar doméstico a ele reservado.
O povo fala das curas de Romário Rodrigues Barbosa.
E ele retribui ensinando rezas para dor de dente, para ferimentos e alergias, queimadura e cólica em crianças. Cada uma é feita de um jeito: segurando rosário, com ervas, com a mão fazendo cruzes e com pedaço de cabaça.
Romário também ensina os benditos que aprendeu, sem alterar as palavras da forma como eram ditas pelos antigos, mesmo que estejam erradas. Sinal de respeito e reverência.
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P.S – Meus Sertões transformou os dois vídeos da médica e pesquisadora de cultura popular Helenita Monte de Hollanda em um único filme. Para ver todos os benditos de Romário, acesse o Canal de Cultura Popular no You Tube
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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.