O caroá é um tesouro. Muitas famílias tiram o sustento das fibras resistentes e duráveis dessa planta, também conhecida como carauá, caruá, caroá-verdadeiro, coroá, coroatá, crauá, croá e gravatá.
Em suas andanças pelo sertão, a médica e pesquisadora de cultura popular Helenita Monte de Hollanda conheceu Dona Josefa, 71 anos, uma das moradoras dos povoados da Olhos D’Água e Mandaçaia, de Tucano (BA), envolvidas na arte da tecelagem.
Na conversa, a tecelã contou que comprava o quilo das folhas de caroá por R$ 4 de um rapaz que as trazia de Quijingue, a 65 quilômetros de distância. Segundo Josefa, os fios da planta são lavados e colocados para secar. Depois de limpos, são laçados e acochados. Só assim podem ser utilizados.
COMUNIDADE DE JATOBAZINHO
Antes de virar fio, porém, é necessário um longo processo, explicado no vídeo “Caroá, a esperança de um povo”, que conta a história de dona Maria Lina, de Dom Inocêncio, no Piauí. Ela pertence a comunidade de Jatobazinho, de 14 famílias e 80 pessoas sem posses, que tiram da caatinga a fonte de subsistência:
“Nós veve (sic) aqui do caroá, meu irmão”, diz Maria.
Para pegar os garranchos de caroá é preciso caminhar cerca de seis quilômetros. As folhas espinhosas machucam as mãos.
“Nós chega em casa, pega a faca, escangota ele, bota dentro d’ água. Quando está com três dias ou quatro a gente vai de novo na fonte d’água, tira ele de dentro d’água, rapa uma rapa que ele tem. Quando acabar, bate e lava e estende pra modo de secar e poder fiar (sic)”, explica.
Maria Lina explica que uma rede de 10 palmos consome três quilos e meio de caroá.
“E dá trabalho, demais, demais, demais, mesmo”
No vídeo, de setembro de 2001, da AB Produções, Maria Lina e sua família diziam que as pessoas ainda reclamavam do preço de uma rede de caroá, vendida a R$ 10.
DE VOLTA A TUCANO
Além do caorá, Josefa trabalha com sisal e uma planta conhecida como “pé-de-lã”. Entre filhas e netas, ninguém quis seguir a arte de tecer.
Veja o vídeo feito no Piauí:
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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.