As cidades de Condeúba, Piripá e Cordeiros, no sertão baiano, enfrentam a pior crise hídrica de suas histórias devido à estiagem e à drástica redução do volume de água da barragem de Champrão, construída em 1955 e responsável pelo abastecimento de cerca de 40 mil moradores. A capacidade do açude é de 5,9 milhões de metros cúbicos, mas nos dias de hoje não chega a 11% do total.
Segundo o fiscal Elias Azevedo da Silva, 51 anos, prestador de serviço da Agência Nacional de Águas (ANA) e responsável pelas medições diárias do nível de água, há 60 dias a barragem atingiu o “volume morto”. Este é o termo técnico que designa a reserva mais profunda do açude, abaixo dos canos de captação, e que não deveria ser usada por se tratar de água de má qualidade com acúmulo de sujeira e substâncias tóxicas.
“Esta é a menor profundidade em 63 anos. Nesta segunda-feira (dia 1º de outubro), as réguas de marcação mostraram que o nível está 6,81 metros abaixo da cota normal e que a profundidade média é de 19 centímetros. A cada dia, o volume diminui dois centímetros, aproximadamente” – explica Elias.
Apesar de a água estar imprópria para consumo, caminhões-pipas continuam a se abastecer no local, utilizando bombas adquiridas pelos pipeiros. Há pelo menos 26 veículos em atividade. Cada um transporta até 10.500 litros. Os motoristas recebem R$ 3 por quilômetro rodado.
Elias também controla a entrada dos caminhões a serviço do Exército. Eles retiraram 688 pipas em três meses. No entanto, de acordo como o fiscal estes veículos deixaram de se abastecer em Champrão. O Exército é o responsável pela maior parte da distribuição de água no Nordeste durante a seca.
Elias informou ainda que a Agência Nacional de Águas (ANA) notificou a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A (Embasa), concessionária de água e esgoto cujo principal acionista é o governo estadual, por ela não ter apresentado plano de contingência para evitar o colapso do abastecimento.
O Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) poderia ter aproveitado o momento para consertar registros rompidos e conter os vazamentos na linha de distribuição. No entanto, alegou não dispor de verbas.
Medo de beber água
Elias diz que sua família – dois netos e a mulher que fez transplante de rim – não consome água da barragem há meses. A alternativa é a cisterna de consumo, abastecida com água da chuva, que ganhou de um programa de convivência com a seca. Este ano, choveu 36 milímetros na região, segundo ele.
O professor e integrante do Conselho Municipal de Educação de Condeúba, Agnério Evangelista, 72 anos, é outra voz crítica com relação à Embasa. Ele diz que a ganância fez a concessionária construir adutoras para Piripá e Cordeiros e não tomar providências para mitigar a crise hídrica.
Agnério conta que a população sugeriu racionamento de água em uma reunião com representantes do DNOCs, da ANA, da Embasa e do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), mas não foi atendida
A falta de fiscalização sobre o consumo, a princípio sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), é outro fator de agravamento da situação. Há anos, não há funcionários do departamento em Condeúba. O escritório mais próximo está a 200 quilômetros. Diante disso, este ano, o órgão vinculado ao Ministério da Integração Nacional, repassou para a prefeitura a função de fiscalização, mas quase nada é feito.
Elias informa que há 98 bombas de irrigação, puxando água da barragem, mas a maioria suspendeu a atividade temporariamente.
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.