A igreja-presépio de Rio do Antônio

“É difícil resumir se é igrejinha ou presépio. Eu acho que é os dois.
A Igrejinha do Presépio ou a Igrejinha de Deus Menino”
Juliana Porto, 21 anos, bisneta de Leobino

No ano de 1887, a beata Maria de Souza, a Bazinha, recebeu a visita dos missionários Júlio Basile e José Dorme. Eles chegaram à então Vila Rio do Antônio, após saírem de Salvador e percorrerem 717 quilômetros. Como retribuição à hospitalidade, eles lhe presentearam com o livro Horas Marianas e uma imagem de Deus Menino, que a beata passou a adorar. O ponto alto da devoção era uma grande festa realizada entre o anoitecer do dia 24 e a madrugada de 25 de dezembro, na Fazenda Rancho Negro, de sua propriedade.

Uma briga entre duas mulheres, anos mais tarde, fez Bazinha anunciar que no ano seguinte o festejo passaria a ser realizado no centro da vila, a sete quilômetros de distância do local onde morava. Ela comprou um terreno e construiu uma igrejinha, transferindo para lá a montagem de um grande presépio – o primeiro da região, segundo a família – e as rezas. A queima de fogo, o leilão e o levantamento do mastro de Deus Menino ocorriam diante do templo.

o templo
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Sem filhos, Maria de Souza deixou suas propriedades para o sobrinho e afilhado Leobino Pereira, que manteve a tradição. Os preparativos para a festa de Natal começam dois dias antes, com a preparação do presépio composto por santos, bonecas, brinquedos diversos, animais feitos em gesso e porcelana, retratos, uma cruz de madeira e muitas plantas. O último objeto comprado, já faz tempo, foi uma pequena árvore de Natal.

A família também enfeita a igreja com oratórios antigos e panos engomados. Por fim, a grutinha, construída com madeira de imbiriçu, é coberta com limo.

É assim que a Igreja-Presépio Deus Menino, construída há mais de um século, abre na véspera do aniversário de Jesus Cristo. Este ano, por conta da pandemia de covid-19, apenas 15 pessoas visitaram o local. Em passado recente, a audiência chegou a 100 visitantes.

Dona Benta Pereira Lobo, 86 anos, uma das 16 filhas de Leobino recorda detalhes da festa, ao lado da sobrinha Juliana Porto:

Benta também detalha como era a Bandeira de Deus Menino, colocada “em um pau bem alto”. Ela acrescenta que o estandarte, rodeado de fitas coloridas, tinha a foto de Jesus criança fixada em meio metro de madrasto (morim) branco.

“A molecada subia e rodava a bandeira. E o povo dava vivas para Deus Menino.” – acrescenta.

Dona Benta e a sobrinha Juliana. Foto: J. Porto
Dona Benta e a sobrinha Juliana Porto

Há cerca de dez anos não há mais fogos, nem leilão. O ritual se resume à ladainha, à reza do terço e do ofício quando se deita o santo (Menino Jesus) na manjedoura. A idade, doenças e a perda do poder aquisitivo não permitem mais que os filhos de Leobino façam estrepolias e gastos desnecessários.

No dia 31, a imagem é colocada de pé, enquanto são feitas novas orações. Nesse momento, poucos fogos espocam. Esse rito é restrito à família de Bazinha e Leobino, que está sepultado no centro da igreja, ao lado da segunda esposa, Marcionila Souza Lobo. A primeira mulher Petronilha Pereira, morta aos 37 anos, também está enterrada no templo.

Amanhã, passado o Dia dos Santos Reis, o presépio será desmontado. A igrejinha, que fica ao lado da Matriz de Nossa Senhora do Livramento, será trancada novamente.

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Essa matéria foi feita por Juliana Porto e Paulo Oliveira

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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