Na sala de Iremar

Capítulo 4:  Três horas de entrevista

Leonardo Lima e Luísa Carvalho

Usando nosso meio de transporte favorito, o carro do pai da Luísa, encontramos a casa do professor Iremar Barbosa, perto da rodoviária, do mesmo jeito que chegamos a residência do prefeito Maguila, perguntando aos vizinhos.

A primeira vez que falamos com Iremar, ribeirinho, docente de uma escola da zona rural de Correntina foi através do Google Meet, no começo da apuração sobre a guerra da água na cidade. Acontece que o som ficou péssimo, mas não nos preocupamos. Sabíamos que pessoalmente a qualidade da gravação para nossa reportagem em áudio melhoraria.

A sala da casa do professor é um cômodo grande, quase vazio, exceto por uma mesa, as cadeiras que sentamos e por um ou outro objeto nos cantos. Por conta disso, eu e Luísa ficamos com receio do som da gravação da entrevista sair com eco e não poder ser utilizado. Por sorte nosso microfone de lapela de R$ 20 funcionou bem.

Nossa entrevista com Iremar e com Marcos Beltrão, o Marquinhos, militante e especialista em cerrado. Marcos chegou uma hora e vinte minutos depois de começarmos a falar com o professor. O fato de termos conversado antes com os dois remotamente deixou claro o que queríamos de cada um para nossa reportagem.

Não foi uma entrevista difícil de fazer, mas um pouco difícil de ouvir durante as três horas que ficamos sentados em cadeiras pouco confortáveis. Os dois personagens nos contaram como as comunidades tradicionais estão expostas à violência crescente do agronegócio.

Os rios que antes tinha cerca de um metro de profundidade agora não passam de um córrego seco, impactando na vida das pessoas nos últimos 30 anos. Iremar destacou, antes e depois de ligarmos o microfone, que não é somente a seca que afeta os rios. Um dos grandes problemas é o despejo de agrotóxicos nos rios da região.

O professor falava de como as fazendas ficam próximas às nascentes e como o veneno chega às comunidades rurais e à zona urbana, quando Marcos Carvalho, o pai da Luísa, foi na cozinha beber um copo d’água. Só havia garrafas e galões de água comprados em mercado.

Capítulos I e II Capítulo III Capítulo VCapítulo VI Capítulo VII Perfis dos autores Guerra da água

Leonardo Lima Contributor

Estudante de jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nasceu em São Paulo, mas mora na Bahia desde os cinco anos. Dentre as coisas que não viveria sem estão aipim frito, Legião Urbana e viagens com perrengue. Já fez dois mochilões com seu pai pela América Latina. Apaixonado por Machado de Assis e por Elis Regina, tem certeza que os dois seriam as primeiras pessoas com quem conversaria caso máquinas do tempo existissem. Estagia no jornal A Tarde, apesar de nunca ter pisado no prédio da empresa. Em 2021, junto com sua amiga e colega Luísa Carvalho, venceu a 13ª edição do Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, onde investigou como o agronegócio está secando os rios no oeste da Bahia.

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