Alcivandes Santana
A festa de São Jorge em Santa Brígida, cidade sertaneja a 438 quilômetros de Salvador, dura quatro dias e é comemorada com novena, missa, procissão, cavalgada e a apresentação de grupos Maneiro Pau e Guerreiros de São Jorge e Joana D’Arc.
Algumas pessoas chamam o Maneiro Pau de Mineiro Pau, erroneamente, pois ele não é originado em Minas Gerais. Ele é uma derivação do Maculelê, bailado guerreiro precursor da capoeira e batido com dois cacetinhos, tradicionalmente feitos com tocos de jucá – também conhecida como pau-ferro.
No Recôncavo baiano, durante esta dança, os participantes batiam com o cacete no chão e bradavam o nome de mestre Popó. Maculelê é uma expressão africana que significa pau roliço.
Essa tradição chegou em Juazeiro do Norte (CE) [1]. Lá, a calça branca da capoeira e o torso nu foram substituídos por roupas de cangaceiros. É para poder dizer que eles estão brincando, mas se algum dia o santo for ofendido, aquele cacete seria usado para poder defender o santo. O uniforme diferencia o Maneiro Pau do Maculelê.
Durante a dança alguém tira os improvisos e o grupo responde em forma de toadas. Mas tem momentos de devoção, onde são entoados benditos. Essa é a parte mística apresentada no mês de São Jorge.
Em Santa Brígida, essa manifestação é preservada no povoado de Santa Cruz, a aproximadamente seis quilômetros do km 40 da BR-110, no trecho que liga Paulo Afonso a Salvador. A pessoa responsável por conservar essa cultura é um camarada chamado Mané de Tango. Então a dança aqui também é chamada de Maneiro Pau de Mané de Tango.
Anteriormente, apenas os Guerreiros de São Jorge e as Guerreiras de Joana D’Arc se apresentavam na festa de São Jorge. O Maneiro Pau, embora não seja formado originalmente por devotos do santo, se uniu aos guerreiros com o passar do tempo. Hoje, nas apresentações antes ou depois das missas, eles batem os cacetes ao lado do grupo que usa espadas. A banda de pífano embala o ritmo das duas manifestações. E o público entusiasmado entra na brincadeira.
Nos estados do Ceará e de Alagoas, o Maneiro Pau também se apresenta em sessões de pagamento de promessas de terceiros. Esse ritual chega a durar uma hora.
JOANA D’ARC E SÃO JORGE
Na década de 1950, a madrinha Dodô, pessoa de confiança de Batista, criou um grupo de dança chamado de Guerreiras de Joana D’Arc. Elas se apresentavam em dias santos. A líder do grupo tirava os hinos e outra componente representava a santa. As mulheres usavam espadas de madeira, cantavam e dançavam de acordo com o que foi ensinado pela beata.
Para ser devota de Joana D’Arc, Dodô exigia que as mulheres fossem donzelas. Quando casavam, elas tinham de deixar o grupo. Também eram aceitas viúvas. Elas usavam roupas nas cores branca e verde.
Os Guerreiros de São Jorge começaram a se apresentar por iniciativa de seu José Caetano, que adaptou a experiência como brincante de reisado à devoção ao santo. Seu José era pedreiro e mestre de obra de Pedro Batista. Ele construiu a casa do beato, a igreja de São Pedro e o hotel São Gabriel.
Certo dia, madrinha Dodô viu José Caetano cantando benditos e propôs a fusão dos dois grupos. A partir daí, foi criada uma variante de dança que não existe em nenhum lugar do mundo. A tradição das guerreiras serem virgens foi mantida. Quanto aos homens não há restrição: podem ser solteiros ou casados.
O segundo líder dos Guerreiros foi seu Zezito Apóstolo, amigo e homem de confiança de Dodô. Hoje, aos 87 anos, o tabelião passou o comando para o santeiro e zelador da igreja de São Pedro, Erivaldo Pereira de Araújo, o Val, 47 anos. O uniforme atual é o azul marinho com fitilho dourado e chapéu de marinheiro.
Uma dança parecida com a dos guerreiros é a Marujada, de Saubara, no recôncavo baiano. Os uniformes são parecidos. A diferença é que chega a sair faísca das espadas durante a simulação da luta.
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[1] Santa Brígida está conectada com Juazeiro do Norte por questões religiosas. Madrinha Dodô, herdeira espiritual do beato Pedro Batista, teria sido assistente de Padre Cícero. Ela organizava romarias frequentes ao Ceará.
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