Milhares de pessoas participaram da Via Sacra, durante o segundo dia da 45ª Romaria da Terra e das Águas. No trajeto entre a esplanada do Santuário de Bom Jesus da Lapa e a Igreja de Bom Jesus dos Navegantes, foram feitas paradas, simbolizando a condenação, a morte e a ressureição de Cristo. Em cada uma das etapas, eram feitas analogias entre o sofrimento do filho de Deus e os dos povos originários e tradicionais, vitimados pela violência dos latifundiários, por grandes empreendimentos que aniquilam suas culturas e outras injustiças.
Frei Luciano Bernardi, da Comissão Pastoral da Terra – Bahia (CPT/BA) saiu à frente da Via Sacra, carregando uma imagem de madeira de São Francisco. Na primeira estação, foi citada a pressão que as comunidades atingidas por barragens sofrem e as acusações de que impedem o progresso. Denísia, ribeirinha do rio Grande, pediu um basta à violência contra os geraizeiros.
No trecho que representava a morte de Jesus, foi citado que entre julho de 2021 e junho de 2022 foram assassinados 13 indígenas. Os atos de violência mais recentes foram perpetrados contra os Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e os Pataxós, no sul da Bahia. Ouviu-se ainda o pedido feito por um grupo de indígenas, no sentido de que sejam evitados novos crimes contra os povos originários.
O frei Luciano passou para Marcellay Pataxó, de Porto Seguro, a imagem de São Francisco e rezou a prece “Pai Nosso Revolucionário”. O indígena disse que seu maior desejo era que todos se conscientizassem que os povos originários querem apenas voltar às terras onde viviam antes da chegada dos colonizadores.
As comunidades ribeirinhas de São Desidério também foram lembradas por conta do impacto das barragens na vida dos moradores.
Carlos Pereira de Almeida, 68 anos, quilombola da Lagoa dos Peixes, em Bom Jesus da Lapa, lembrou dos prejuízos causados pela instalação de empresas de energia solar. Segundo o líder comunitário, empresas multinacionais ocuparam a região e não pagaram indenizações adequadas. Ele também se queixou pelo fato de a reforma agrária no Brasil nunca ter saído do papel.
No final da Via Crucis, próximo de uma área muito assoreada do rio São Francisco, parcialmente transformada em depósito de lixo, novos pedidos de socorro. Jamilton Magalhães, o Carreirinha, da comunidade tradicional de Fundo e Fecho de Pasto de Gado Bravo, em Correntina, disse que a romaria é o espaço para os povos tradicionais trazerem seus problemas e buscarem soluções. Segundo ele, as principais lutas são o reconhecimento de território e contra o desmatamento, causado principalmente pelos monocultores de soja.
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Reportagem feita em parceria com a CPT-BA.
Fotos de Thomas Bauer/ CPT-BA/H3000
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.