Indígenas abrem Romaria da Terra da Água protestando contra o governo federal
Cento e oitenta indígenas de diferentes povos do norte de Minas Gerais e das regiões oeste, sul e extremo sul da Bahia entraram na esplanada do Santuário de Bom Jesus da Lapa, pouco antes da abertura da 45ª Romaria da Terra e das Águas, cantando músicas criticando o governo do presidente Jair Bolsonaro:
“Fora Bolsonaro/ Bolsonaro fora/ Pega seu governo genocida/ E vai embora” – dizia um dos cantos.
O canto obteve adesão de romeiros que também se dirigiam para a missa de abertura da romaria, que termina no dia 3 de julho, domingo. Pela primeira vez os indígenas participam de forma organizada do evento, participando dos plenários e discutindo formas de mobilização para a retomada da votação sobre o marco temporal, tese do governo federal que propõe o reconhecimento somente das terras ocupadas pelos povos originários na data da promulgação da Constituição Federal de 1988.
O bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, presidiu a missa de abertura da romaria. Na homilia, Cappio fez dois agradecimentos e um pedido.O sacerdote agradeceu ao Bom Jesus da Lapa por todos os presentes terem sobrevivido ao período mais grave da epidemia de covid-19 e pela oportunidade de estar, ao lado de milhares de pessoas, o santuário de Bom Jesus da Lapa e de Nossa Senhora da Soledade.
Na hora do pedido, o bispo, que completou 50 anos de sacerdócio, rogou:
“Bom Jesus nos ajude a devolver o Brasil ao povo brasileiro. Infelizmente, pela política do governo vigente o nosso país está sendo entregue às grandes potências e aos conglomerados econômicos. Não podemos permitir que isso aconteça. O Brasil é dos pobres, a maioria do povo; dos inígenas que já estavam aqui antes dos colonizadores; e dos negros, que durante 300 anos foram escravizados” – disse.
Após a missa, houve a apresentação do filme Pureza, estrelado por Dira Paes. O longa-metragem é baseado na história de uma mãe solo maranhense que busca encontrar o filho cooptado para trabalhar em um garimpo. Em sua luta, ela se emprega em uma fazenda e testemunha trabalhadores vivendo em regime análogo à escravidão. Pureza, cujo nome dá título ao filme, enfrenta o sistema perverso e não desiste de sua procura.
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Cobertura feita em parceria com a CPT-BA
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.