Entre agosto e novembro de 2021, Paulo Oliveira, editor de Meus Sertões, e a professora Lívia de Souza Vieira, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), orientaram Leonardo Lima dos Santos e Luísa da Silva Carvalho, estudantes de jornalismo na produção, reportagem e edição do podcast “Guerra da água”, que mostra como o agronegócio ameaça conservação do bioma e subsistência de comunidades tradicionais no cerrado baiano.
Enquanto produziam o podcast que ganhou o Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, Leonardo e Luísa registravam os bastidores da reportagem em texto e fotos, uma espécie de diário da grande aventura da primeira viagem dos dois para a produção de uma reportagem. Este material, transformado em série, começa a ser publicado hoje. É fascinante ver os primeiros passos de dois jornalistas com potencial para obter grandes conquistas profissionais. Essa viagem começa agora. (Paulo Oliveira)
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E aqui para conhecer mais sobre o Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão.
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Capítulo 1: O antes
Leonardo Lima e Luísa Carvalho
Luísa me mandou mensagem em julho de 2021 contando sobre o Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, e que deveríamos pensar em uma pauta que conversasse com o tema daquele ano: “Questões do nosso tempo”. Ah, mas antes que me esqueça, meu nome é Leonardo e, durante alguns capítulos, eu e minha amiga e colega Luísa contaremos para você histórias dos bastidores da reportagem “Guerra da Água”, fruto do prêmio. Enfim, seguindo.
Essa não era a primeira vez que nós dois faríamos uma reportagem juntos ou que nos inscreveríamos em algum prêmio ou bolsa, então rapidamente eu disse sim. Nós acreditamos que o jornalismo é um dos meios para denunciar e combater crimes e situações que violam os direitos humanos e por isso não foi difícil pensar e escolher a pauta. Noticiar, em uma reportagem em áudio, o impacto do agronegócio nas comunidades tradicionais do Oeste da Bahia foi a primeira sugestão de Luísa. Concordamos de cara e partimos para a pré-apuração.
Em um documento juntamos tudo que tínhamos de informação sobre os conflitos no Oeste e percebemos que essas disputas eram mais intensas na cidade chamada Correntina por causa de um recurso básico: a água. A partir dos dados e dos contatos iniciais, elaboramos a pauta e mandamos para o Prêmio. No dia 20 de agosto, quando fomos anunciados como um dos 10 grupos ganhadores, Luísa foi mais rápida e olhou o e-mail primeiro. Por uma ligação dela gritando foi que eu soube: “A GENTE PASSOU, A GENTE PASSOU”.
Após a dose de adrenalina da ligação ter passado, pensamos no que viria depois. Juntos com Paulo Oliveira, nosso mentor da pauta, e Lívia Vieira, nossa professora orientadora, organizamos o roteiro, as fontes e o cronograma. Fizemos muitas reuniões online com nossas fontes, mas elas travavam e o som saía abafado. Sabíamos que ter uma qualidade melhor de áudio era fundamental para termos uma boa reportagem e, se isso já estava nos planos, tivemos ainda mais certeza: Eu e Luísa precisávamos ir pessoalmente para Correntina.
Capítulo 2: A viagem para Correntina
Para Luísa era mais fácil, a cidade onde mora, Santana, fica a cerca de duas horas de carro do nosso destino. Eu, por outro lado, moro bem mais longe, algo como 800 km entre Correntina e minha casa, que fica em uma cidade do sul da Bahia chamada Itacaré. Combinamos com o pai de Luísa, Marcos, para nos acompanhar até a cidade e marcamos com as fontes nossa ida nos dias 9 e 10 de outubro. Felizmente já tínhamos tomado as duas doses da vacina contra a Covid-19.
Encontrei Luísa na casa dela no dia anterior a nossa viagem. Acontece que, de Itacaré para Santana não tem ônibus direto. Para a pauta acontecer, a solução foi fazer uma ‘conexão’ em Salvador. Então às 5h da manhã na quinta-feira, dia 7, eu saí de casa e peguei o ônibus para Bom Despacho, na Ilha de Itaparica (também não tem ônibus direto para Salvador onde moro). A viagem inicial foi tranquila.
Para quem não está familiarizado com essa viagem ou local, o caminho mais rápido de Itaparica pra Salvador é cruzando a baía de Todos-os-Santos de ferryboat (barco para transporte de veículos e passageiros). Como fiz o percurso no ferry na quinta-feira de manhã, ao invés de podcast ou música, fui ouvindo e acompanhando no Google Meet a aula de pré-TCC, preparatória para o trabalho de conclusão do curso de jornalismo, embaixo de muito sol e com muito barulho ao redor.
Cheguei na rodoviária de Salvador, após deixar o terminal marítimo e pegar um Uber, no começo da tarde. Meu almoço foi um misto quente. O ônibus para Santana saiu às 18h30. A viagem também foi sem problema. Lembro que passei boa parte dela enjoado a ponto de não conversar com um morador de Correntina que estava em uma fileira perto da minha.
Foram mais de 29 horas de viagem entre a minha casa e Santana. Mas é aquela história, pela pauta valia a pena. Às 10h da sexta-feira, dia 8, estava na casa de Luísa. Os momentos juntos antes de irmos para Correntina foram importantes para alinharmos exatamente o que estávamos pensando tanto em como seria nossa abordagem, mas também em como queríamos usar o material que conseguíssemos, qual a estrutura que desejávamos para a reportagem.
A gente estava empolgado com a possibilidade de apurarmos presencialmente depois de tantas pesquisas e entrevistas remotas na pandemia. Além disso, era nossa primeira viagem com o objetivo de fazer jornalismo. Sabíamos que era importante estar no local e ouvir os moradores pessoalmente para percebermos a visão que alguns deles tinham dos acontecimentos que estávamos investigando e também do contexto. Acordamos com o sol no dia 9 e fomos direto para Correntina para falar com nossa primeira fonte marcada na cidade: o prefeito. (Continua)
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Capítulo III Capítulo IV Capítulo V Capítulo VI Capítulo VII Os aventureiros GUERRA DA ÁGUA
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Estudante de jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nasceu em São Paulo, mas mora na Bahia desde os cinco anos. Dentre as coisas que não viveria sem estão aipim frito, Legião Urbana e viagens com perrengue. Já fez dois mochilões com seu pai pela América Latina. Apaixonado por Machado de Assis e por Elis Regina, tem certeza que os dois seriam as primeiras pessoas com quem conversaria caso máquinas do tempo existissem. Estagia no jornal A Tarde, apesar de nunca ter pisado no prédio da empresa. Em 2021, junto com sua amiga e colega Luísa Carvalho, venceu a 13ª edição do Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, onde investigou como o agronegócio está secando os rios no oeste da Bahia.