A Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade de Cachoeira, realizada entre 13 e 17 de agosto, é um dos eventos religiosos mais tradicionais da Bahia, devido às suas raízes ligadas à formação do povo brasileiro.
Os festejos são promovidos pela Irmandade da Boa Morte, confraria religiosa fundada na primeira metade do século XIX em Salvador, por escravas e negras alforriadas, para cultuar a Assunção da Virgem Maria, promover atos caridosos e apoiar a luta abolicionista.
Em Salvador, a irmandade se reunia na Igreja da Barroquinha, o que facilitava o culto aos orixás que caracteriza o sincretismo baiano: no fundo desse templo religioso funcionou o primeiro terreiro de candomblé urbano da cidade, o Aya Omi Ase Airá Intilé.
Em meados do século XIX, a irmandade mudou-se para Cachoeira, instalando-se na Casa Estrela, um misto de local de culto, devoção e comércio, que mantinha intenso intercâmbio com a África.
Nessa época, negras ganhadeiras que entraram para a irmandade ajudaram o florescimento econômico da entidade e fomentaram a festa, que nos dias de hoje atrai turistas do Brasil e do mundo.
As comemorações, ligadas à morte e à vida, ou dormição e assunção de Nossa Senhora, se iniciam no dia 13 de agosto, com homenagens às irmãs falecidas.
No dia seguinte, as integrantes da irmandade seguem da sede da confraria até a Igreja da Ajuda onde é realizada missa de dormição da Virgem. A cerimônia se encerra com a procissão de Nossa Senhora da Boa Morte pelas ruas históricas de Cachoeira, acompanhada pela filarmônica da cidade.
No dia seguinte, terceiro dia festivo, 15 de agosto, é realizada a principal procissão da festa, pela manhã. As irmãs, adornadas com joias crioulas, lembrando a pompa das antigas negras de ganho. Elas comemoram a Assunção de Nossa Senhora, jogando flores na imagem da santa, acompanhadas pela filarmônica e por uma multidão. Nos dois dias seguintes, as irmãs comemoram com muita comida e samba de roda em louvor a Nossa Senhora.
A Festa da Boa Morte é considerada Patrimônio Imaterial da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Histórico do Estado.
OS FESTEJOS
CENAS DA FESTA DE 2018
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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.