O destino do museu e a homenagem para Travessa

A notícia da morte do criador e mantenedor do Museu Histórico de Canudos Manoel Alves, mais conhecido como Manoel Travessa, 82 anos, chegou com atraso de três dias, através de uma postagem no Instagram. Travessa foi um dos primeiros sertanejos perfilados por Meus Sertões, em abril de 2016, quando as reportagens ainda eram publicadas apenas em uma rede digital e não havia o site.

Ex-peão na construção de barragens, ex-fabricante e vendedor de canoas para pescadores, ex-motorista e ex-vereador por cinco mandatos, Manoel Alves ganhou o apelido de Travessa no tempo em que tinha uma balsa e fazia a travessia do açude de Cocorobó, em Canudos, de um lado para o outro. Além disso,  ele só deixou de se eleger quando a candidatura de analfabetos foi proibida.

Pois bem, esse personagem fascinante morreu no dia 10 de julho de 2023, de problemas cardíacos. Seu corpo foi sepultado no dia seguinte, no povoado em que morava. Criador do Museu Histórico de Canudos em uma construção tosca com paredes de adobe cru. O acervo da instituição eram projeteis, armas, cartucheiras, objetos do Exército e tudo aquilo que pode comprar ou encontrar na área onde a Guerra de Canudos foi travada.

A preocupação com o destino do museu a partir da morte de seu fundador é ressaltada na postagem escrita pela jornalista Socorro Araújo:

“Morreu Manoel Travessa, o homem que criou e cuidava desse pequeno museu no Canudos Velho. O espaço, pequeno e meio caótico, serviu de inspiração pra o museu de Bacurau. Quem assistiu esse filme fantástico vai lembrar. É igualzin! Que não aconteça com esse museu o mesmo que aconteceu com o de José Aras, no Bendegó. Maior, mais completo, mas não resistiu depois da morte do fundador. Preservar, cuidar, dar uma nova vida a esse museu é uma obrigação dos que tanto falam de Canudos. Lutar por isso é a maior homenagem que se pode prestar ao homem que nos confins do sertão ousava manter um museu.

PODCAST

O podcast Aquela Conversa, projeto do ativista cultural e diretor de Cultura de Canudos José Alex da Silva Oliveira, o Lequinho, reapresentará a última entrevista concedida pelo criador do Museu Histórico como forma de homenageá-lo. O programa original foi ao ar, no canal Canudos TV do You Tube, no dia 26 de maio. Travessa já estava debilitado e não pode ir ao estúdio. A gravação foi feita em sua residência.

Aquela Conversa” homenageará Manoel Travessa. Divulgação

Na nova apresentação, nesta sexta-feira (14/7), às 19 horas, serão incluídos depoimentos de pesquisadores e familiares de Manoel. Para acessar é só clicar aqui.

O projeto Aquela Conversa tem o objetivo de preservar e difundir a cultura, a história, a memória, diversidades artísticas e movimentos populares de Canudos, através de conversas com descendentes dos remanescentes da Guerra contra Canudos, conselheiristas e defensores do legado do beato e de Belo Monte. A estreia foi no dia 17 de março deste ano.

Por ele passaram personalidades da história e da cultura canudense, como Gerônimo, neto de Pedro Nolasco de Oliveira, o Pedrão, integrante da Guarda Católica de Antônio Conselheiro; José Américo Amorim, que se dedica a contar em poemas a história do beato e da cidade; Nininho do Zabumba, da banda de pífanos; Dona Duru e Josefa Reis, descendentes dos sobreviventes da guerra.

–*–*–

Leia mais

A longa travessia de Manoel

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

follow me
Compartilhe esta publicação:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sites parceiros
Destaques