Cultura luta contra o marasmo

A diretora de Cultura de São Félix, Elba Matos, tem uma árdua missão: lutar contra a falta de recursos para valorizar a história do município e preservar prédios históricos, monumentos e tradições. A fama de Cachoeira, cidade vizinha separada apenas pelos 365 metros da ponte Pedro II, sob o rio Paraguaçu, ofusca a beleza e os mistérios sanfelixtas.

A gestora também tem a responsabilidade de supervisionar os festejos do Dois de Julho, que atrai cerca de quatro mil moradores e visitantes. Três dias após o evento, ela respondeu as perguntas encaminhadas por Meus Sertões. Elba declarou que fará o que estiver ao seu alcance para acabar com o marasmo cultural que toma conta de São Félix.

Meus Sertões: Quais seus planos à frente da diretoria de cultura para a cidade?

Elba: No momento o esforço maior é de institucionalização da política pública na cidade. A possibilidade de recursos próprios só se concretizará com o estabelecimento de instâncias de participação social, criação do fundo e organização de um plano a médio prazo. Temos também um grande desafio que é sensibilizar a população para este grande potencial histórico que possuímos.

 

Casa de Cultura Américo Simas está em péssimo estado . Foto: Paulo Oliveira

 Meus Sertões: São Félix tem belos prédios, dentre eles a casa de cultura Américo Simas e a estação de trem. Apesar da importância cultural e histórica, eles estão mal conservados. Há alguma proposta para recuperá-los?

Elba: Temos projetos colocados em editais e junto ao governo federal há muito tempo. Não só para a Casa da Cultura e para a estação ferroviária, mas também para os antigos galpões das fábricas de charutos. Particulares também precisam de apoio para preservar prédios de valor histórico que são de sua propriedade. Enfim, nunca desistimos, apesar das dificuldades.

 Meus Sertões: Por que festas e romarias importantes como a do Senhor São Félix e a do milagre de Santa Bárbara acabaram? Ainda há possibilidade de resgatá-las? Como?

Elba: Para que essas manifestações se mantenham ou sejam resgatadas não depende só do poder público. Porém observo que falta interesse na população em geral por essa preservação.  Em outras cidades as irmandades e comissões estão vivas, são ativas para cobrar do poder público e para captar recursos para a realização dos eventos. Em São Félix, um certo marasmo toma conta.

Discordo quando Santa Bárbara é citada. Ela continua recebendo muitos romeiros.

Meus Sertões: Quando fala em romeiros, você se refere a uma grande romaria ou a visitações esporádicas?

Elba: Pequenos grupos aparecem durante o ano. Na primeira quinzena de dezembro isso se intensifica. Ciganos, religiosos católicos e de matriz africana chegam em bom número, especialmente nos domingos e no dia 4 de dezembro.

Gruta no Alto de Santa Bárbara. Foto: Paulo Oliveira

Meus Sertões: A sinalização dos pontos turísticos da cidade é ruim. Nela não constam informações básicas como a distância para chegar até eles…

Elba: A sinalização atual é fruto do Prodetur Bahia, um programa de fortalecimento do turismo. Ao recebê-la percebemos algumas falhas. Documentos denunciando essa situação foram enviados à secretaria estadual de Turismo, que prometeu rever a situação. A gestão municipal tem intenção de resolver essa questão.

Meus Sertões: Qual o balanço do Dois de Julho?

Elba: O melhor possível.  Eleger o rio Paraguaçu como o elemento norteador da discussão sobre as lutas da Independência travadas em suas margens. Falar sobre sua importância para nosso desenvolvimento e da esperança que ele nos traga, através da atividade turística, os postos de trabalho necessários à nossa manutenção, foi uma narrativa de fácil entendimento e emocionou a todos.

A celebração é fruto de um esforço de toda a gestão e tem se configurado, desde muito tempo, num grande atrativo cultural da cidade. É uma mistura rica de civismo, resgate histórico e valorização do nosso povo, que só tende a melhorar a cada ano.

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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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