O Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Primeiro Passo Itapuã/Malê Debalê foi fundado em 27 de dezembro de 2016, mas até março do ano seguinte estava sem funcionar. Hoje, ele atende 78 crianças na creche; 166, na pré-escola; e seis alunos especiais, segundo dados do QEdu. A iniciativa é um portal educacional com informações sobre a educação básica no Brasil [1].
A construção da unidade em um terreno em frente a Lagoa do Abaeté, com fundos voltados para o bloco afro, foi uma das justificativas dadas pela direção da agremiação para pedir a desativação da escola municipal que funcionava na sede do Malê Debalê.
Desde então, a cúpula do bloco passou a pleitear a instalação de um centro cultural no local onde funcionava o colégio. Em 30 de setembro de 2022, o site da Secretaria Municipal de Educação (SMED) publicou um texto com o seguinte título: “Parceria entre Prefeitura e Malê Debalê proporcionará atividades no contraturno escolar”.
Nele constava que o prefeito Bruno Reis (União Brasil), por meio da SMED, assinou convênio com Josélio de Araújo, fundador do bloco, para a criação do Espaço Cultural Malê Debalê. A unidade abrigaria atividades no contraturno escolar, incluindo aulas de reforço de português e matemática, de cultura (arte, dança e percussão) e práticas esportivas. Só que até hoje Bruno não cumpriu a promessa, embora 200 crianças estejam matriculadas e aguardando o início do projeto.
N época, a SMED estimou que 300 crianças seriam atendidas por dia, 150 em cada turno, com direito a refeições (lanche e almoço). Bruno Reis ressaltou que o centro cultural iria colaborar ainda mais para o processo educacional das crianças de Itapuã. Na ocasião, argumentou-se que a iniciativa tinha como finalidade “compensar o período da pandemia”, quando os estudantes da rede tiveram comprometimento de seu aprendizado.
No final do texto, a Secretaria de Comunicação de Salvador afirmava que o conselho era semelhante a convênios assinados pela Fundação Cidade Mãe (FCM) em duas unidades da Escola Laboratório (Escolab), nos bairros Boca do Rio e Coutos. A Escolab tem capacidade para atender alunos de oito escolas, através de parceria com o Google e o SmartLab.
Atualmente a secretaria de Educação e a Prefeitura de Salvador se recusam a dar informações sobre a instalação do centro cultural, pleiteado há oito anos e anunciado como fake News pelo prefeito. O projeto, segundo uma fonte do município, também mudou. Ele seguiria agora o modelo dos espaços culturais Boca de Brasa, através da Fundação Gregório de Mattos (FGM), órgão vinculado à Secretaria de Cultura e Turismo (Secult).
Existem quatro unidades desse projeto no Centro, Coutos (Subúrbio 360), Cajazeiras e Valéria. Esses equipamentos objetivam o desenvolvimento artístico e cultural dos territórios onde estão estabelecidos, o fortalecimento das relações identitárias e o respeito à diversidade.
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Nota de pé de página
[1] A QEdu foi criada em 2012 pela Fundação Lemann. Jorge Paulo Lemann, fundador e presidente da instituição, é um economista e empresário suíço-brasileiro. Em 2019, ele foi considerado o segundo homem mais rico do Brasil pela revista Forbes.
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Legenda da foto principal: Prefeito Bruno Reis faz promessa no Malê, mas não cumpre. Foto: Secom/Divulgação
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Para ler a série completa
PARTE I
A Escola Municipal Malê Debalê: auge e declínio Adaptações feita para o bloco virar escola A primeira diretora da Escola Malê Josélio Araújo: “Consegui transformar lixo em luxo” Editorial: Sem transparência a verdade não aparece
PARTE II
Obra feita em período eleitoralGedalva, ex-diretora da Escola Malê e escritora'Hoje a gente não está dando conta nem de alfabetizar'
PARTE III
Saudades da escola A diretora mais longeva da Escola Malê Debalê
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.