A história do colégio Maria do Carmo

Paulo Oliveira 

O projeto político-pedagógico da Escola Professora Maria do Carmo de Araújo Maia, que circulou inicialmente entre os diretores da unidade de ensino, estabelecia como missão “formar cidadãos (…) para o tão competitivo mercado de trabalho e estimular o ingresso na carreira militar”. Na conclusão do plano também ficava evidente a percepção de que o perfil dos alunos do colégio mudaria, pois o próprio CPM, inicialmente voltado às classes populares, se expandiu e diversificou o público-alvo.

O material historiciza o colégio desde a fundação em uma casa alugada, no Centro, no dia 13 de agosto de 1984, com o nome de Escola de 1º Grau de Campo Formoso. Da fundação até 1997, funcionou a maioria das vezes em situação precária, seja em horário alternativo, apesar dos constantes prejuízos ao aprendizado, ou em salas de aula emprestadas em outros colégios.

Quando estava reduzido a duas turmas na escola Nossa Senhora Aparecida e ameaçado de extinção, a direção e os professores recorreram ao prefeito José de Santana, que alugou uma casa no bairro São Francisco. Em 2001, com a municipalização da unidade e a fusão da Escola de 1º grau e a Nossa Senhora de Aparecida, o nome do educandário passou para Maria do Carmo de Araújo Maia, em homenagem a uma antiga e atuante educadora da cidade.

Periferia onde estava instalada a escola Maria do Carmo. Foto: Paulo Oliveira

 

No mesmo ano, o proprietário do imóvel pediu as chaves e ocorreu nova mudança. Desta vez, para a rua da Saudade, no bairro Santa Luzia, onde permaneceu até 2021. A unidade escolar também atendia alunos dos bairros Campo de Aviação, São Francisco, Guabiraba, Mutirão e Maria Joana.

Em 2002, passou a oferecer ensino fundamental II e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Este nível foi abolido com a implantação do modelo CPM. O comando da Polícia Militar alega que não atua no horário noturno, mas na prática a restrição a alunos com distorção idade-série acaba sendo um fator de exclusão nas escolas de gestão compartilhada entre a corporação e as secretarias municipais de educação. Em 2018, o educandário passou a ter aproximadamente 430 alunos, divididos em dois turnos.

O documento revela ainda que a maioria das crianças e adolescentes matriculados ali eram filhos de agricultores e de funcionários municipais com pouca qualificação. A quase totalidade dos pais recebia recursos de projetos sociais do governo federal, como o Bolsa Família. O projeto político-pedagógico cita ainda que Campo Formoso enfrentava problemas com desemprego e subemprego, o que acarretava em mazelas como o tráfico de drogas, a violência, a falta de infraestrutura e de habitação adequada, a prostituição, a má alimentação dos moradores e deficiências nas áreas de educação, saúde e lazer.

Por fim, reconhece que a Escola Maria do Carmo não oferecia atrativos para os jovens, citando como exemplo a falta de aula de informática e de acesso à internet. E relaciona dentre os objetivos mudar o conceito da unidade perante à comunidade em até três anos, difundir a “disciplina extracurricular” Metodologia Disciplinar de Ensino (MDE) e a instrução de ordem unida.

O primeiro diretor disciplinar da escola já no sistema CPM foi o capitão José Carlos Santana Neto, depois substituído pelo subtenente Bartolomeu Lima e Silva, que antes atuava como coordenador. No momento da implantação, a escola tinha 15 professores.

O antigo prédio do colégio passou a ser ocupado pela Escola Salomão Galvão de Carvalho, voltado para a educação infantil.

fotos da nova escola
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Esta série de reportagens foi financiada pelo Edital de Jornalismo de Educação, uma iniciativa da Jeduca e do Itaú Social.

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LEIA A SÉRIE COMPLETA

PARTE I

A militarização das escolas na bahiaO avanço para o interior O exemplo goiano Diferentes escolas militares e militarizadas

PARTE II

A elitização da primeira escola militarizada Mães aprovam modelo CPM, filhos nem tantoFundamental I e ensino médio na mira

PARTE III

Conceição do Jacuípe: boletim expõe alunos O regulamento e a cartilha Muita fé e só uma mulher entre 466 tutores Tutor disciplinar barra aluna negra

PARTE IV

Escola troca nome de vítima da ditadura Mais unidades da PM do que infraestrutura Entre a esperança e o bafo da milícia Inquérito 1.14.001.001281

PARTE V – FINAL

Miriam Fábia: “Impacto brutal na formação dos jovens”Major Fabiana: ‘Disciplina como ferramenta para a vida’O governador emudeceuDepoimentos de ex-alunos do CPM

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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