Paulo Oliveira
O governador Rui Costa não respondeu às perguntas sobre o processo de militarização das escolas públicas, autorizado por ele a cinco meses da eleição de 2018. Na época, Costa foi reeleito em primeiro turno. O questionário foi encaminhado pela equipe de Meus Sertões, no dia 12 de abril. A coordenadora executiva da assessoria de imprensa, Arla Coqueiro, confirmou o recebimento dos questionamentos no dia 14. Depois disso, assim como o governador, silenciou-se.
A reação taciturna do governador e de sua assessoria reforça o que está evidente no artigo “A militarização das escolas públicas”, publicado em 31 de agosto de 2018, no Le Monde Diplomatique Brasil , e anexado ao inquérito aberto pelo Ministério Público Federal (MPF).
Na publicação, o cientista social Rudá Ricci diz que os gestores não estão interessados em se aprofundar no debate sobre a educação. O objetivo deles é criar um programa espetaculoso, que polemiza e atrai a atenção.
“Um atalho que pode dizer muito em termos eleitorais, mas pode interditar o futuro de nossas crianças e adolescentes” – afirma Ricci.
Este foi o questionário enviado ao governador:
1- Qual a avaliação que o senhor faz dessa iniciativa (militarizar escolas)?
2- O senhor defende que o modelo seja expandido para o ensino fundamental e para o ensino médio?
3- Em qualquer cargo político que o senhor tenha daqui para frente, o senhor tentará implantar este sistema em larga escala? Por quê?
4- O relato de casos de preconceito, como ocorreu recentemente em São Sebastião do Passé, e o rigor disciplinar excessivo não demonstram falhas graves no modelo implantado pela PM e pelas prefeituras?
5-A ida da PM para as escolas, já que a maioria delas fica em áreas de conflito e vulnerabilidade, não é uma demonstração de que a Polícia Militar não consegue controlar os índices de criminalidade na rua e, ao mesmo tempo, não passa de uma tentativa de melhorar o conceito dos policiais e da instituição perante a população?
6- O senhor estudou ou gostaria de estudar em uma escola do tipo que foi autorizada em sua gestão? Caso a resposta seja sim, em qual colégio e como foi sua experiência?
7- O senhor acredita que o modelo deste modelo híbrido – PM e Secretarias Municipais de Educação – é includente? Por quê?
8- Por que o senhor autorizou a implantação desse sistema?
9- Quais os principais investimentos feitos na área de educação no seu governo?
10- O senhor vê semelhanças no modelo criado pela Bahia e os de Goiás e do presidente Bolsonaro? Sim, não? Quais semelhanças e diferenças entre eles?
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Esta série de reportagens foi financiada pelo Edital de Jornalismo de Educação, uma iniciativa da Jeduca e do Itaú Social.
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LEIA A SÉRIE COMPLETA
PARTE I
A militarização das escolas na bahiaO avanço para o interior O exemplo goiano Diferentes escolas militares e militarizadas
PARTE II
A elitização da primeira escola militarizada A história do Colégio Maria do Carmo Mães aprovam modelo CPM, filhos nem tantoFundamental I e ensino médio na mira
PARTE III
Conceição do Jacuípe: boletim expõe alunos O regulamento e a cartilha Muita fé e só uma mulher entre 466 tutores Tutor disciplinar barra aluna negra
PARTE IV
Escola troca nome de vítima da ditadura Mais unidades da PM do que infraestrutura Entre a esperança e o bafo da milícia Inquérito 1.14.001.001281
PARTE V – FINAL
Miriam Fábia: “Impacto brutal na formação dos jovens”Major Fabiana: ‘Disciplina como ferramenta para a vida’ Depoimentos de ex-alunos do CPM
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Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.