Dissertação detalha trabalho que deu o título de referência no ensino de história
e cultura africana e afro-brasileira à escola Eugênia Anna dos Santos
Paulo Oliveira
No trabalho “Africanidades e educação popular, uma análise de propostas e vivências pedagógicas de Movimentos Negros em Sorocaba”, a pedagoga e pesquisadora Mariana Martha de Cerqueira Silva (Universidade Federal de São Carlos -UFSCar) explica que a ideia do projeto é a utilização do pensamento africano recriado nos terreiros como forma de aprender e ensinar. Este é apenas um dos 990 resultados encontrados após pesquisa no Google Acadêmico.
De acordo com a autora, a forma de organização do projeto político-pedagógico coaduna com o pensamento africano que preconiza o ouvir e perceber como forma de conhecer a realidade, pois a partir daí se desenvolve a tradição oral.
Ela ainda acrescenta um trecho para demonstrar que o projeto representa o que o filósofo e educador Mario Azanha preconiza:
“O ponto de vista pedagógico deve ser um esforço de compreensão da escola como um projeto institucional para transformar uma comunidade de professores e alunos onde ocorrem encontros de gerações numa comunidade espiritual fundada numa visão ética cujos efeitos educativos se prolongam além dos anos de escolaridade”.
Quanto ao uso da mitologia afro-brasileira como conteúdo, Mariana Martha explica que o trabalho traz à tona a cosmovisão africana, explicitando a forma de compreensão dos fatos e fenômenos da vida humana a partir da abordagem da complexa interdependência entre os seres humanos, a natureza, a arte, a culinária e a religiosidade.
“Enfim, a mitologia afro-brasileira envolve uma complexa epistemologia sobre a vida no mundo material, o Ayê, e o mundo espiritual, o Orum.”- acrescenta
Desta forma, vem ao encontro dos princípios da educação para relações étnico-raciais expressos no parecer federal referente à história e cultura africana e afro-brasileira, que destaca a necessidade de se preservar e difundir a educação do patrimônio cultural afro-brasileiro como parte de uma ação educativa de combate ao racismo e às discriminações.
O Projeto Irê Ayô proporcionou à escola Eugênia Anna dos Santos o título de referência no ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, concedido pela Secretaria Municipal de Educação. Também foi acolhido na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia como esforço investigativo para um currículo multirreferencial, orientado pelos professores Ubiratan Castro, Luís Felipe Serpa e Dante Galeffi
Vanda Machado participou do Grupo de Estudos na Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade (Secad – MEC) para a inserção das diretrizes nacionais para educação das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Ela é autora de “Mitos afro-brasileiros e vivências educacionais”, incluído na pasta de textos da professora e do professor (2005). Esse material, distribuído para todas escolas da rede municipal, serviu de base para a aplicação da Lei 10.639 em Salvador.
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Legenda da foto principal: As salas de aulas da escola Eugênia Anna dos Santos são decoradas com diversos trabalhos feitos por alunos. Foto: Olga Leiria
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A pauta desta série de reportagens foi selecionada pelo 5º Edital de Jornalismo de Educação, uma iniciativa da Jeduca e Fundação Itaú.
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Leia a série completa
PARTE I
A lei fracassou? As estratégias dos movimentos negros O protagonismo dos terreiros e dos blocos afro Yabás em movimento As yabás I - Mãe Hildelice dos Santos
PARTE II
A escola do portão verde As yabás II – Ana Célia da Silva A hora da verdade O longo e desgastante trâmite no Congresso
PARTE III
Assuntos sobre negros importam A resistência de Lázaro Formação continuada na Uneb Escola reflete filosofia africana As yabás III – Vanda Machado O projeto pedagógico Yrê Aió
PARTE IV – FINAL
'Nenhum secretário teve a temática racial como prioridade' O silêncio absurdo de Thiago Remando contra a maré Pesquisa mostra a realidade brasileira Olívia e os novos desafios As yabás IV - Jacilene Nascimento
- Author Details
Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.